O Patrimônio ameaçado de Mariana: O desafio para salvar a Capela Nossa Senhora das Mercês

A comunidade de Bento Rodrigues expressa preocupação com o estado atual da capela

Por Plox

01/06/2023 07h28 - Atualizado há cerca de 1 ano

A Capela Nossa Senhora das Mercês, uma relíquia arquitetônica do século XVIII em Bento Rodrigues, Mariana, Minas Gerais, está no centro de uma preocupante luta pela sua preservação. O templo, que resistiu ao trágico rompimento da barragem de Fundão em 2015, agora enfrenta uma ameaça iminente de desmoronamento.

 

Foto: Reprodução

Patrimônio Histórico em Perigo

A capela, tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) em 2018, permanece como um símbolo de fé e resiliência para a comunidade de Bento Rodrigues. Após a tragédia, a capela tornou-se o principal local de uso comunitário, abrigando eventos sociais, além de suas funções religiosas.

Contudo, Ana Paula Alves, assessora técnica, urbanista e arquiteta da Assessoria Técnica Independente Cáritas Brasileira, informa que o templo está se deteriorando rapidamente. Ela afirma que "a construção está se deteriorando" devido à falta de manutenção e de restauração, e alerta para o fato de a capela estar "isolada e envolta por tapumes".

A Necessidade Urgente de Restauração

A comunidade de Bento Rodrigues expressa preocupação com o estado atual da capela, temendo o colapso da estrutura. Alves reitera essa preocupação: "moradores se deparam com a edificação comprometida, correndo o risco de perdê-la". A comunidade busca urgentemente realizar obras de restauro antes da estação chuvosa, quando a capela poderia vir a ceder.

Mônica Santos, moradora de Bento Rodrigues e integrante da Comissão de Atingidos pela Barragem de Fundão (CABF), destaca a importância do templo para a comunidade, referindo-se à capela como um lugar de fé e resistência e "o que restou de nossa comunidade e onde nos sentimos acolhidos".

Mônica, ao ressaltar a urgência das obras de restauração, relata: "Cada vez que a gente chega para limpar, infelizmente, é um pedaço no chão que a gente encontra. Pedimos a intervenção antes que ela caia”.

Um Templo em Crise

Além da deterioração estrutural, a capela enfrenta uma infestação de insetos. O padre Marcelo Moreira Santiago, responsável religioso pela comunidade e pela igreja, alerta: "Se não houver uma intervenção nos próximos meses, ela corre sérios riscos de cair. Também a infestação de cupins cresce rapidamente, comprometendo os seus altares, com grandes perdas".

O Iepha estima que a construção da Capela Nossa Senhora das Mercês tenha ocorrido entre 1750 e 1815, provavelmente logo após a fundação da Irmandade das Mercês em Bento Rodrigues.

A Sombra da Tragédia

A luta pela preservação da capela ocorre em um contexto ainda marcado pela tragédia da barragem de Fundão, que completa oito anos em novembro deste ano. Este desastre, ocorrido em 5 de novembro de 2015, resultou em 19 mortes e devastou o Rio Doce, além de afetar diversas cidades mineiras e capixabas.

A Capela Nossa Senhora das Mercês emergiu como um símbolo de resiliência e perseverança após resistir à enxurrada de lama, tornando-se um ponto de referência e uma fonte de fé para os sobreviventes da tragédia. A sua possível perda representaria mais um duro golpe para a já fragilizada comunidade de Bento Rodrigues.

O Futuro Incerto

Hoje, a capela está cercada por tapumes, sinal visível da preocupação com a sua integridade. Seus frequentadores e os membros da comunidade em geral assistem angustiados à possibilidade de o templo vir a ceder.

Apesar dos desafios, a comunidade de Bento Rodrigues permanece determinada em sua luta para preservar este importante patrimônio histórico e religioso. A Capela Nossa Senhora das Mercês é muito mais que uma estrutura arquitetônica: ela é um testemunho da história da comunidade, um símbolo de fé e resistência, e um lembrete da necessidade de vigilância constante e cuidado com o patrimônio cultural.

A situação da capela reforça a urgência de ações efetivas de preservação e restauro do patrimônio histórico, que não só garantem a integridade dessas importantes estruturas, mas também apoiam as comunidades que nelas depositam suas memórias e esperanças.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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