Tesouros sacros de Minas: resgate de peças desaparecidas reacende esperança

Ministério Público de Minas Gerais revela levantamento sobre objetos sacros desaparecidos e resgatados no estado

Por Plox

01/06/2024 07h58 - Atualizado há 5 meses

A persistente luta dos mineiros pela recuperação de peças sacras furtadas ao longo das décadas de igrejas, capelas e museus continua a alimentar a esperança de muitas comunidades no estado. Um levantamento recente do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) revela que, dos 1.863 bens desaparecidos, 627 foram resgatados e 99 restituídos aos seus locais de origem. Entre os itens recuperados estão imagens, cálices, castiçais e partes de altares, datados dos séculos 18, 19 e início do 20.

crédito: Daniel Silva/Prefeitura de Congonhas – 10/5/24

Devolução e esperança

A devolução de peças de fé em Congonhas e Santa Luzia reacende a confiança das comunidades. No início de maio, a comunidade de Lobo Leite, em Congonhas, celebrou a volta da imagem de São Benedito, possibilitada por uma denúncia na plataforma digital Sondar. "A população tem esperança, mas muitos acreditam que a imagem de Nossa Senhora do Carmo, da Matriz de Santa Cruz, possa até estar no exterior", afirma Maurício Aparecido Costa, secretário Municipal de Cultura e Turismo de Chapada do Norte.

Em Campanha, no Sul de Minas, o cônego Bruno César Dias Graciano, da Paróquia Santo Antônio, expressa um sentimento similar: “A esperança é um sentimento que não se apaga, ainda mais quando se teve parte da história arrancada.” O Museu Regional do Sul de Minas, pertencente à Diocese de Campanha, sofreu o furto de 28 peças sacras há 30 anos, das quais quatro foram resgatadas, incluindo a imagem de Nossa Senhora da Apresentação.

Sistema de segurança e preservação

Para prevenir futuros furtos, diversas ações de segurança foram implementadas. O prédio do museu em Campanha foi restaurado e equipado com um sistema de câmeras de vigilância. “Quando falamos de patrimônio cultural ou de bens desaparecidos, estamos nos referindo ao nosso presente, de como recebemos esse legado dos antepassados, de como cuidamos dele e do que fazemos para preservá-lo às futuras gerações”, comenta o historiador Raphael Hallack, consultor do Projeto Sondar na CPPC/MPMG.

Investigação e retorno de peças

A plataforma Sondar, lançada em 2021 pelo MPMG em parceria com a UFMG, tem sido uma ferramenta crucial para a recuperação de bens culturais. A recente devolução da imagem de São Benedito à Capela Nossa Senhora da Soledade, em Congonhas, é um exemplo do sucesso da plataforma. "Todo bem cultural com valor tangível ou intangível para uma determinada comunidade ou coletividade é passível de ser incluso no sistema", explica o promotor de Justiça Marcelo Maffra, titular da CPPC/MPMG.

A imagem de São Benedito, datada do século 18, foi retirada de um leilão em BH e devolvida às autoridades por um homem cujo nome não foi divulgado. Seu retorno à comunidade de Lobo Leite foi celebrado com entusiasmo. Maria Ângela Santana da Silva, uma das pessoas que identificaram a peça, expressa sua confiança: “Esperamos agora pela volta das demais peças.”

Mobilização comunitária

Em Santa Luzia, a campanha pela recuperação de peças sacras foi liderada pela professora Sandra Gabrich e pelo biólogo Cristiano Massara, resultando na devolução da imagem de Santa Rita de Cássia e de um crucifixo à Capela São Batista. Sandra Gabrich ressalta a importância do acervo: “O acervo faz parte da história de cada um, além de remeter aos antepassados.”

Perdas irreparáveis e sentimento de pertencimento

Minas Gerais já perdeu mais de 60% de seu acervo artístico esculpido nos tempos coloniais, Império e início do século passado. Wilton Fernandes Guimarães, coordenador da Associação Sociocultural Bem-te-vis, destaca a importância de preservar esses bens coletivos. “Cada vez que lemos ou ouvimos uma notícia sobre a devoção de peças sacras, ficamos mais otimistas, a esperança rebrota.”

Bens culturais ainda desaparecidos

A luta pela recuperação de peças sacras continua, com muitos itens ainda ausentes, como Nossa Senhora do Rosário e São Elesbão, de Campanha, e Nossa Senhora do Carmo, de Chapada do Norte. As informações sobre essas e outras peças estão disponíveis na plataforma Sondar, que também serve como canal para denúncias.

Exemplos de tesouros desaparecidos

  • Nossa Senhora do Rosário, de Caeté, furtada em 2010.
  • São Joaquim, de Lobo Leite, furtado em 1996.
  • São Miguel Arcanjo, de Itatiaia, furtado em 1994.
  • Santana Mestra, de Couto de Magalhães de Minas, furtada em 1994.
  • Nossa Senhora do Carmo, de Chapada do Norte, furtada em 1994.

A recuperação desses tesouros é essencial não apenas para a preservação do patrimônio cultural, mas também para a manutenção da identidade e da memória coletiva dos mineiros.

 

 


 

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