Custos com pets surpreendem e geram dívidas para tutores em Minas Gerais
Pesquisa aponta que 52% dos donos consideram despesas com animais elevadas e apenas 31% se sentem preparados para imprevistos
Por Plox
01/09/2025 13h47 - Atualizado há 15 dias
Odara, uma cadela sem raça definida, passou por uma cirurgia recente para retirada de um tumor, gerando uma despesa inesperada para a assistente social Aline Paixão, que cuida de 14 cães em busca de adoção, em Belo Horizonte. Com um custo fixo mensal de aproximadamente R$ 2.500 — entre aluguel de espaço, água, ração e medicamentos —, Aline relata que os gastos emergenciais com os animais acabam desestabilizando seu orçamento, já que ela não conta com apoio governamental e depende exclusivamente de doações.

A cuidadora afirma que as surpresas são constantes
. “Mesmo com todo o planejamento, imprevistos aparecem. A cirurgia de Odara custou cerca de R$ 2 mil, valor que não estava previsto. Além disso, os cães mais velhos usam medicação contínua e precisam de exames frequentes,”
explica. Aline diz viver em um ciclo de endividamento, no qual, ao quitar uma dívida veterinária, outra já surge.
Dados da pesquisa “O Mercado Pet no Brasil: Afeto, Cuidados e Desafios”, realizada pela Quaest em 2024, revelam que 52% dos tutores consideram os custos com pets altos ou muito altos. Além disso, 50% dos mil entrevistados disseram já ter deixado de realizar algum procedimento por falta de recursos. Um estudo norte-americano publicado em 2025 também apontou que apenas 31% dos tutores se sentem preparados para arcar com despesas veterinárias elevadas.
Aline ressalta ainda a dificuldade em encontrar serviços acessíveis.
“Uso o serviço público para castração, mas exames como endoscopia só encontrei na rede particular, com preços altos e poucas opções de especialistas com boa indicação,”
conta.
Segundo o Conselho Regional de
Medicina Veterinária de Minas Gerais (CRMV-MG), os custos mais elevados refletem a infraestrutura necessária para oferecer um serviço de qualidade. “Diferentemente da medicina humana, os serviços veterinários não contam com subsídios do SUS, o que impacta diretamente nos valores cobrados,”
destaca Bruno Divino, chefe de gabinete do CRMV-MG.
Ele sugere alternativas para quem enfrenta dificuldades financeiras: buscar atendimento em clínicas-escolas, hospitais universitários e serviços públicos, como o Complexo Público Veterinário de Belo Horizonte (CPVBH), que oferece exames, cirurgias e internações gratuitas, com capacidade de atender até 30 animais por dia. Além disso, a prefeitura lançou recentemente o projeto “Bem-Estar Animal sobre Rodas”, que oferece serviços móveis gratuitos.
Outras opções na capital mineira incluem o Hospital Veterinário da UFMG, com mais de 35 mil atendimentos por ano a preços reduzidos, e o Hospital Veterinário do Uni-BH, com estrutura completa e descontos para alunos e colaboradores.
A variação nos preços dos serviços veterinários é outro ponto que pesa no bolso. Uma simples radiografia pode custar entre R$ 175 e R$ 400 em clínicas da capital, conforme levantamento feito por O TEMPO. Já uma pesquisa do site Mercado Mineiro identificou variações de até 150% em serviços como transporte de pets, e de até 85% nas consultas clínicas. O diretor do site, Feliciano Abreu, ressalta a importância de pesquisar antes de contratar qualquer serviço.
Não há regulamentação oficial de preços para procedimentos veterinários, conforme o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV). Clínicas e profissionais têm liberdade para estipular os valores, desde que respeitem as normas éticas da profissão. Segundo o CFMV, práticas abusivas ou enganosas são proibidas e podem ser denunciadas.
Planos de saúde veterinários surgem como uma possível solução. Apesar de o Brasil ser o terceiro maior mercado pet do mundo, 92% dos tutores ainda não contam com esse tipo de cobertura. Entre os que não possuem plano, 69% afirmam que gostariam de ter, de acordo com a Quaest. Empresas como Petlove, Dog Life, Plamev e APet oferecem planos a partir de R$ 19,90, com coberturas que variam entre consultas, exames, vacinas e até cirurgias.
Diante desse cenário, o setor pet propõe a criação da ANS da Veterinária, uma agência reguladora que vise organizar o mercado de planos de saúde para animais. A proposta, que já conta com apoio parlamentar, busca garantir mais segurança jurídica aos profissionais, proteção aos consumidores e bem-estar aos animais.
Com a crescente importância dos pets nas famílias brasileiras, os desafios financeiros para mantê-los saudáveis e seguros continuam exigindo alternativas viáveis e políticas públicas mais efetivas.