Irmãos separados pela seca do nordeste se reencontram após 50 anos
A internet possibilitou algo que parecia impossível
Por Plox
01/10/2023 10h27 - Atualizado há mais de 1 ano
O estado do Ceará foi palco de uma emocionante narrativa de reencontro entre irmãos separados há meio século por um dos maiores desafios naturais da região: a seca severa de 1970. José Maria da Silva Guerra e Dimas da Silva Guerra, dois irmãos separados pelas circunstâncias, encontraram-se digitalmente após 50 longos anos, graças aos esforços incansáveis da filha de José, Brena Kelly.
A separação e a busca por uma vida melhor

A história remonta ao ano de 1970, quando uma seca devastadora levou os irmãos a trilharem caminhos distintos na busca por melhores condições de vida. Enquanto Dimas migrou para o Pará, os anos se passaram sem qualquer contato entre os irmãos, até que o avanço da tecnologia proporcionou uma luz de esperança. Brena, a filha de José, conduziu uma busca meticulosa nas redes sociais, narrando a saga familiar e compartilhando fotos de seu pai na esperança de algum dia reencontrar o irmão perdido de José.
Brena Kelly contou ao G1 o sentimento de dever cumprido ao facilitar o reencontro digital entre seu pai e seu tio. A busca meticulosa na internet finalmente deu frutos quando Brena conseguiu localizar Dimas e outro irmão que havia migrado para Manaus, embora este último tivesse falecido antes de um possível reencontro. A ligação via vídeo entre José e Dimas não apenas despertou emoções, mas também revelou semelhanças físicas e histórias de vida que se entrelaçavam, apesar das décadas de separação.
Cenário adverso, marcado pela seca e pela Ditadura Militar, impulsiona histórias de separação e reencontros familiares
O historiador Frederico de Castro Neves esclarece que as separações e reencontros familiares propiciados pela seca eram eventos recorrentes, e essas "histórias dramáticas" foram agravadas pela Ditadura Militar que dominava o cenário nacional. Segundo Frederico, também em depoimento ao G1, a ditadura, em 1970, cerceou informações sobre a condição dos agricultores pobres, e uma parcela da ajuda destinada aos retirantes foi controlada pelo Exército. Ele destaca que essa conjuntura de migrações, miséria, e conflitos não foi única, tendo se repetido em outras ocasiões, como em 1968, e posteriormente entre 1978 a 1983.
A brutal seca de 1970, também conhecida como "Seca Grande", imprimiu marcas profundas na memória de José Maria, que relembrou os desafios enfrentados pela sua família no município de Beberibe. José tinha cerca de 15 irmãos, mas tragédias levadas pela seca culminaram na morte de vários deles.
José rememora a luta diária pela sobrevivência: a busca por água em longas distâncias, a escassez de empregos, e a necessidade de se deslocar em busca de recursos básicos. As adversidades da época desencadearam separações dolorosas na família Guerra, ecoando a realidade de muitas outras famílias cearenses.
Apesar das adversidades do passado, o reencontro digital entre José e Dimas Guerra simboliza a esperança de reatar os laços fraternos. Brena Kelly, que desempenhou papel crucial na localização de Dimas, expressa o desejo de promover um encontro presencial entre os irmãos.
Agora, unidos pela tecnologia, os irmãos Guerra anseiam por um encontro presencial, para retomar o vínculo fraterno interrompido pelas adversidades do passado.