Minas lidera produção mundial de café, mas seca preocupa empresários
Cerca de 80% da produção mineira abastece o mercado externo, que valoriza especialmente os cafés especiais
Por Plox
01/10/2024 09h10 - Atualizado há 8 dias
Minas Gerais responde por 54% da produção nacional de café, tornando-se uma referência no setor. O estado destaca-se em um país que é o maior produtor mundial de café, contribuindo com 38% do volume global, segundo dados da Faemg e Conab. Parte significativa dos produtores tem investido em cafés especiais, que têm alta demanda internacional.
Apesar de não haver dados consolidados, a Faemg considera Minas o maior produtor mundial de cafés especiais e estima que de 10% a 15% da safra brasileira se encaixe nessa categoria. Bruno Souza, da Fazenda Esperança em Campos Altos, exemplifica esse cenário: "Cerca de 20% da minha produção de cafés especiais atende o mercado interno e 80% é exportado para países como EUA, Dinamarca, Holanda, Dubai, França e Alemanha. Produzimos 1.350 sacas na última safra, das quais 700 foram de café especial".
Para que o café seja classificado como especial, ele deve alcançar pelo menos 80 pontos na escala de 0 a 100 da Specialty Coffee Association (SCA).
Desafios climáticos afetam produção e aumentam preços
No entanto, a mudança climática é um grande obstáculo. Em 2021, uma chuva de granizo comprometeu 92% da produção de Bruno Souza, impactando safras subsequentes. A previsão é que a produção volte ao normal apenas em 2025. "Também temos a questão da seca, que nunca vi tão intensa como agora. Este ano tivemos uma redução de 30% na safra", afirma Bruno.
Uma pesquisa do ATeG Café+Forte, ligada ao Sistema Faemg Senar, com 1.706 produtores mineiros, aponta uma quebra média de 23% na safra de café arábica de 2024 em Minas Gerais. Apesar de reduzir a produção, as condições climáticas elevam o preço do café, que se torna mais escasso. Uma saca de café especial é vendida por R$ 1.600 no Brasil e R$ 2.200 no exterior. "Os produtores brasileiros vendem muito barato lá fora, cerca de 30% menos que o café especial colombiano, que tem a mesma qualidade que o nosso", acrescenta Bruno.
Novos investimentos para conquistar mercados
A crescente procura por cafés de qualidade superior tem incentivado empresas a investir em novas linhas. A Jequitinhonha Alimentos, de Capelinha, tradicional produtora de café, lançará uma nova linha de cafés superiores em outubro, expandindo sua produção de 200 toneladas mensais. Segundo o CEO Luiz Carlos Moreira Barbosa, a ideia é atrair tanto consumidores de cafés mais sofisticados quanto aqueles que desejam experimentar uma bebida de maior qualidade.
"Estamos entre o tradicional e o especial e percebemos uma demanda crescente por esse tipo de produto", comenta Luiz Carlos. A empresa investiu mais de R$ 1 milhão em equipamentos e tecnologias para envase, torra e empacotamento, com expectativa de produzir mais de 200 toneladas por ano e distribuir por todo o estado de Minas Gerais.
Apesar do otimismo, há preocupação com a safra de 2025 devido à seca, o que pode elevar ainda mais o preço do café. "Mesmo assim, não acredito em queda de consumo, pois o café tem lugar cativo na mesa do brasileiro", finaliza Luiz Carlos.