Internautas condenam decisão do STF de punir jornalistas por falas dos entrevistados

Ex-Ministro vê "insegurança total" na atuação jornalística após decisão do STF

Por Plox

01/12/2023 09h54 - Atualizado há 8 meses

A recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil, que permite a punição de jornalistas por declarações falsamente criminosas feitas por seus entrevistados, tem gerado uma onda de críticas nas redes sociais. Usuários da web, incluindo especialistas em direito e liberdade de expressão, condenam a medida por considerarem que ela impõe limites excessivos à liberdade de imprensa.

Ministros do STF durante posse de Cristiano Zanin. Foto: Supremo Tribunal Federal STF

A decisão, anunciada em [data específica da decisão], estipula que veículos de comunicação podem ser responsabilizados caso publiquem entrevistas em que o entrevistado impute falsamente a prática de um crime a terceiros. Isso seria aplicável se, na época da divulgação, houvesse evidências claras da falsidade da acusação e se o veículo jornalístico não observasse o "dever de cuidado" na verificação da veracidade dos fatos.

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No Twitter, Facebook e outras plataformas sociais, a reação foi imediata e amplamente negativa. Muitos usuários argumentam que tal decisão pode levar a uma autocensura por parte da imprensa, temendo possíveis processos judiciais. Além disso, há preocupações de que essa medida possa ser utilizada para silenciar jornalistas que cobrem temas sensíveis ou que questionam figuras públicas.

Especialistas em direito digital e liberdade de expressão se manifestaram, destacando a ambiguidade do termo "dever de cuidado". Eles apontam que sem uma definição clara, a decisão do STF deixa um espaço amplo para interpretações subjetivas, o que pode resultar em uma inconsistência na aplicação da lei. Isso, segundo eles, poderia ter implicações significativas para a liberdade de imprensa no Brasil.

Alguns profissionais da mídia também expressaram sua preocupação, argumentando que a decisão poderia levar a um jornalismo menos investigativo e mais cauteloso, especialmente em casos envolvendo alegações contra figuras poderosas ou instituições.

Essa decisão do STF, que tem repercussão geral, significa que seus princípios devem ser aplicados a casos semelhantes em todo o país. Porém, a falta de detalhamento sobre o que constitui o "dever de cuidado" continua a ser um ponto de controvérsia e debate nas redes sociais e entre os profissionais de comunicação.

 

Ex-Ministro vê "insegurança total" na atuação jornalística após decisão do STF

 

O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello, que se aposentou da Corte em 2021, expressou sérias preocupações em relação à recente decisão do STF de responsabilizar empresas jornalísticas por conteúdo de entrevistas. Em entrevista concedida ao Poder360, Mello descreveu a decisão como fonte de "insegurança total" para os profissionais de imprensa.

Foto: STF

Segundo Marco Aurélio Mello, a decisão do STF impõe um grande obstáculo à liberdade de imprensa, ao exigir dos jornais um "verdadeiro inquérito" sobre a veracidade das declarações feitas pelos entrevistados. Ele acredita que tal medida cria um ambiente de incerteza e temor entre os jornalistas, que podem se ver compelidos a adotar uma postura excessivamente cautelosa, prejudicando a essência do jornalismo investigativo.

A preocupação central do ex-ministro gira em torno do impacto dessa decisão na dinâmica das entrevistas jornalísticas. Mello aponta que a exigência de verificação minuciosa de cada declaração pode levar a uma autocensura, onde os jornalistas podem evitar temas controversos ou declarações potencialmente problemáticas para não enfrentar possíveis ações judiciais.

A declaração de Marco Aurélio ressoa entre diversos setores da sociedade que veem na decisão do STF um potencial cerceamento à liberdade de imprensa e uma forma dos membros da mais alta corte “dominarem” a classe jornalística do país.

 

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