Saúde

Hipertensão dobra no mundo e já atinge 114 milhões de jovens

Estudo internacional aponta salto de 3% para 6% na incidência de pressão alta em menores de 19 anos entre 2000 e 2020; especialistas relacionam avanço a ultraprocessados, sedentarismo e excesso de telas

01/12/2025 às 08:11 por Redação Plox

A hipertensão arterial é uma das doenças crônicas mais comuns do mundo. Embora possa surgir em qualquer idade, sua incidência aumenta após os 50 anos, sobretudo entre pessoas sedentárias ou com predisposição genética. Um estudo recente, porém, chama atenção ao revelar que o número de crianças e adolescentes com pressão alta vem crescendo em todo o planeta.


Pesquisa aponta que a quantidade de jovens de até 19 anos com hipertensão arterial duplicou em escala global

Pesquisa aponta que a quantidade de jovens de até 19 anos com hipertensão arterial duplicou em escala global

Foto: Reprodução


Pesquisadores da China e do Reino Unido compararam dados de saúde de crianças e adolescentes, coletados entre 2000 e 2020, e observaram que a incidência de hipertensão em jovens de até 19 anos dobrou, passando de 3% para 6%. Hoje, cerca de 114 milhões de crianças e jovens vivem com a condição no mundo. Os resultados foram publicados em 12 de novembro na revista científica The Lancet Child & Adolescent Health.

Estilo de vida inadequado impulsiona pressão alta precoce

Na avaliação do cardiologista Renault Ribeiro Júnior, coordenador de cardiologia do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, um dos principais fatores por trás desse aumento é o estilo de vida inadequado. Rotinas alimentares marcadas por excesso de ultraprocessados e pouca atividade física criam um ciclo que começa ainda na infância e se manifesta cada vez mais cedo.

Devemos procurar ser o maior exemplo para nossos filhos de como evitar um quadro de hipertensão. Se quisermos ter uma geração saudável, isso deve começar dentro de nossas casas

Renault Ribeiro Júnior

O maior motivo de preocupação é o impacto da pressão alta sobre o sistema cardiovascular. Quanto mais cedo a hipertensão se instala, maiores as chances de complicações graves ainda na juventude, como acidente vascular cerebral (AVC), infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca, alterações renais, rigidez arterial precoce e prejuízos ao crescimento e ao desenvolvimento.

A nutricionista Manuela Dolinsky, presidente do Conselho Federal de Nutrição (CFN), ressalta que crianças com hipertensão têm alta probabilidade de se tornarem adultos hipertensos, perpetuando um ciclo que aumenta o risco de mortalidade cardiovascular ao longo da vida.

Má alimentação é o principal gatilho na infância

A má alimentação é apontada como o principal fator para o diagnóstico de hipertensão em jovens. O consumo excessivo de alimentos ultraprocessados — ricos em sal, açúcar e gorduras — e a baixa ingestão de alimentos in natura e minimamente processados favorecem o sobrepeso e a obesidade infantil, condição que eleva de forma significativa o risco de pressão alta.

Segundo Manuela Dolinsky, há uma mudança importante no padrão alimentar dos mais jovens, marcada por mais refeições fora de casa, maior consumo de fast food, bebidas açucaradas e snacks salgados. Esse cenário está associado a aumento de adiposidade, resistência à insulina, inflamação crônica e hiperatividade de mecanismos fisiológicos que elevam a pressão arterial de forma precoce.

Sedentarismo, estresse e sono ruim agravam o quadro

Outro ponto relevante é a redução da prática de exercícios físicos. O uso excessivo de telas faz com que crianças e adolescentes passem mais tempo em casa e menos tempo em movimento. A falta de atividade física compromete o desenvolvimento físico e mental, enfraquece ossos e músculos e favorece o surgimento de doenças crônicas, entre elas a hipertensão.

O estresse e a ansiedade também entram na conta. Sobrecarregados com exigências acadêmicas, sociais e familiares, especialmente na adolescência, muitos jovens apresentam liberação excessiva de hormônios ligados ao estresse, o que contribui para o aumento precoce da pressão arterial.

O excesso de telas ainda prejudica o sono: longos períodos no celular, computador ou televisão reduzem o tempo de descanso e a qualidade do sono. A privação de sono aumenta o risco de desregulações hormonais e de estresse, piora a alimentação e cria um terreno favorável para o desenvolvimento da hipertensão.

Desigualdade e falta de acesso a alimentos saudáveis

As desigualdades sociais também influenciam diretamente o problema. Sem acesso regular a alimentos de qualidade, muitas crianças e adolescentes acabam recorrendo a opções mais baratas e menos saudáveis, como produtos ultraprocessados e industrializados. Esse padrão alimentar, somado a outros fatores de risco, reforça o crescimento da pressão alta nessa faixa etária.

Além da questão genética, outros elementos que podem elevar a pressão arterial incluem consumo de álcool, tabagismo, ingestão excessiva de sal, obesidade, colesterol alto, diabetes, idade avançada, estresse e sedentarismo. Entre os principais sintomas de hipertensão estão tontura, visão embaçada, dor de cabeça, dor no pescoço ou nuca, zumbido no ouvido, sonolência, palpitações, enjoo e pequenos pontos de sangue nos olhos, especialmente quando a pressão aumenta rapidamente.

Alimentação: o que priorizar e o que evitar

Para prevenir e controlar a hipertensão desde cedo, a alimentação tem papel central. Entre os alimentos que devem ser priorizados estão:

O que incluir na dieta:

Frutas e vegetais consumidos diariamente, importantes fontes de potássio, magnésio e fibras; leguminosas como feijão, lentilha e grão-de-bico; cereais integrais, como arroz integral e aveia; oleaginosas, como castanhas e nozes; fontes magras de proteína, como peixe, frango e ovos; laticínios com menor teor de gordura, como leite desnatado e ricota. Também é recomendado ter a água como principal bebida, reduzindo o consumo de sucos processados e refrigerantes.

O que evitar:

Alimentos ultraprocessados, refrigerantes e bebidas açucaradas, fast food, embutidos e carnes processadas, além de produtos ricos em sódio e gorduras saturadas.

Como reduzir o risco de hipertensão em jovens

O avanço da pressão alta entre crianças e adolescentes reflete o ambiente em que eles vivem. Por outro lado, mudanças simples no estilo de vida podem modificar esse cenário. Melhorar a alimentação, aumentar a prática de exercícios físicos e cuidar da qualidade do sono são atitudes acessíveis e fundamentais.

O acompanhamento com profissionais de saúde também é decisivo para diagnóstico precoce, orientação adequada e prevenção de complicações. Para a presidente do CFN, quanto mais cedo essas medidas forem adotadas, maiores as chances de garantir uma vida adulta mais saudável e com menor risco de doenças cardiovasculares.

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