Saúde

Perigos do atalho: Anabolizantes engrossam o sangue e elevam risco de trombose, infarto e AVC

Mesmo com exames aparentemente normais e uso sob supervisão médica, hormônios sintéticos em doses suprafisiológicas alteram colesterol, danificam vasos e criam ambiente propício à formação de coágulos

01/12/2025 às 12:33 por Redação Plox

Anabolizantes vêm sendo usados como um atalho para músculos definidos e ganho rápido de massa, mas esse atalho pode custar caro ao coração e ao cérebro. Mesmo com acompanhamento médico, essas drogas engrossam o sangue, alteram o colesterol e pressionam o sistema cardiovascular, elevando o risco de coágulos, derrame e infarto.


Nas academias e nas redes sociais, se multiplicam corpos definidos e musculosos. Ao lado da disciplina e da dieta, porém, cresce também o uso de esteroides anabolizantes, muitas vezes vistos como um recurso rápido para atingir o chamado “corpo perfeito”. O que muita gente não percebe é que, por trás dos ganhos estéticos, existe um custo biológico elevado — e que nenhum tipo de supervisão médica é capaz de eliminar completamente esse risco.

O uso de anabolizantes eleva o hematócrito e a viscosidade do sangue, deixando-o mais espesso e suscetível à formação de coágulos

O uso de anabolizantes eleva o hematócrito e a viscosidade do sangue, deixando-o mais espesso e suscetível à formação de coágulos

Foto: Reprodução / Agência Brasil.


Como os anabolizantes agem no organismo

Os anabolizantes são derivados sintéticos da testosterona. Quando utilizados em doses acima das necessidades fisiológicas — algo frequente em ciclos voltados ao ganho acelerado de massa muscular —, desencadeiam uma série de alterações no sangue e nos vasos sanguíneos que comprometem o equilíbrio da circulação.


O uso de esteroides anabolizantes aumenta o hematócrito e a viscosidade do sangue, deixando-o mais espesso e propenso à formação de coágulos. Ao mesmo tempo, ocorre elevação significativa do colesterol LDL, o “colesterol ruim”, e redução do HDL, o “colesterol protetor”, o que acelera o acúmulo de placas de gordura nas artérias. Essas drogas ainda danificam o endotélio vascular, a camada interna que reveste os vasos e regula o fluxo sanguíneo, prejudicando o controle natural da coagulação.


Além disso, os anabolizantes podem elevar a pressão arterial e provocar espessamento do músculo cardíaco, sobrecarregando o coração, favorecendo arritmias e aumentando o risco de embolias. Somadas, essas alterações criam um cenário ideal para tromboses, infartos e acidentes vasculares cerebrais, inclusive em pessoas jovens e aparentemente saudáveis.

Supervisão médica não zera o risco

Um equívoco comum é acreditar que consultas regulares e exames de rotina tornam o uso de anabolizantes seguro. Estudos publicados em periódicos científicos como Circulation, Stroke e Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism mostram que, mesmo sob supervisão e com exames laboratoriais aparentemente normais, o uso prolongado de testosterona e de seus derivados pode provocar espessamento do sangue, inflamação dos vasos e disfunção endotelial.


Em outras palavras, o risco está ligado ao uso de doses suprafisiológicas, e não apenas à falta de acompanhamento. Os danos se instalam em nível celular e microvascular, e não há exame capaz de prever com precisão quem irá desenvolver complicações graves.

AVC em jovens: um perigo subestimado

O acidente vascular cerebral isquêmico ocorre quando o fluxo de sangue para uma região do cérebro é interrompido, geralmente por um coágulo. Sem oxigênio, as células nervosas começam a morrer em questão de minutos. Entre usuários de anabolizantes, o quadro costuma surgir de forma súbita, com sinais como fraqueza ou dormência em um lado do corpo, fala arrastada, perda de visão, tontura ou desequilíbrio.


Relatos clínicos descritos na literatura médica registram casos de homens entre 20 e 40 anos, sem doenças prévias conhecidas, que sofreram infartos cerebrais após ciclos com testosterona, trembolona, oxandrolona ou estanozolol. Em muitos desses episódios, o hematócrito ultrapassava 55% e o colesterol HDL estava extremamente baixo — alterações suficientes para deflagrar uma trombose cerebral, mesmo em indivíduos jovens, ativos e fisicamente bem condicionados.

O paradoxo da estética perfeita

O uso de anabolizantes cria um paradoxo evidente: enquanto melhora a aparência e o desempenho físico a curto prazo, deteriora silenciosamente o sistema vascular. Essas substâncias ampliam a força e o volume muscular, mas sobrecarregam o coração e comprometem a circulação. O resultado é um corpo que parece saudável por fora, porém vulnerável a eventos graves por dentro.


Especialistas em endocrinologia e medicina esportiva reforçam que não existe dose “segura” de anabolizantes quando o objetivo é puramente estético ou de performance. Qualquer elevação crônica dos níveis hormonais acima do fisiológico já interfere no metabolismo cardiovascular e aumenta o risco de complicações.

Interromper o uso ajuda, mas nem sempre reverte tudo

A suspensão dos anabolizantes pode normalizar parte das alterações laboratoriais em algumas semanas ou meses. No entanto, quando ocorre um evento vascular — como AVC ou infarto —, as sequelas tendem a ser permanentes. Mesmo jovens que sobrevivem a um derrame podem ficar com déficits motores, dificuldade de fala, fadiga persistente e alterações cognitivas, com impacto profundo na qualidade de vida.


Por isso, a prevenção precisa começar antes da primeira aplicação. O uso recreativo de hormônios está longe de ser inofensivo: seus riscos extrapolam em muito a questão estética.

Cuidar do corpo sem agredir o cérebro

Buscar saúde, força e autoestima é legítimo, mas exige equilíbrio. Treinos planejados, alimentação adequada, sono de qualidade e avaliação médica em caso de suspeita de deficiência hormonal são caminhos mais seguros e eficazes para melhorar o desempenho e a composição corporal.


A medicina esportiva moderna oferece recursos para otimizar a performance, mas nenhum deles passa pelo uso prolongado de hormônios em níveis tóxicos. O verdadeiro conceito de performance está em respeitar os limites do corpo e proteger o que ele tem de mais vital: o cérebro. Um físico pode ser reconstruído com esforço. Um cérebro lesionado, não.

Sinais de alerta de AVC (também em jovens)

Alguns sintomas exigem atenção imediata, mesmo em pessoas sem histórico de doença:


Fraqueza ou dormência súbita em um lado do corpo

Dificuldade para falar ou compreender palavras

Perda súbita de visão em um ou ambos os olhos

Tontura, desequilíbrio ou perda de coordenação

Dor de cabeça súbita e muito intensa


Diante de qualquer um desses sinais, a orientação é buscar atendimento de emergência sem demora. No AVC, cada minuto conta.


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