Pâmella Gil redefine padrões no Carnaval e inspira com sua história de superação

Pâmella Gil, carinhosamente conhecida como Gordelícia do Samba, tem uma trajetória que vai muito além dos brilhos do Carnaval. Aos 40 anos, a passista do Salgueiro e coordenadora da ala de passistas da Porto da Pedra, Pâmella não apenas desafia os padrões estéticos tradicionais do samba, mas também compartilha uma inspiradora história de superação e autoaceitação.

Desde os 11 anos, Pâmella está imersa no universo do samba, uma paixão herdada de sua família. No entanto, sua jornada foi marcada por desafios, especialmente a partir de 2013, quando começou a enfrentar mudanças em seu corpo e, com elas, a gordofobia. Essa fase de sua vida foi caracterizada por momentos de dor e isolamento. "No começo, eu engordava, mas corria atrás do prejuízo com dietas malucas para estar no padrão do Carnaval", revela. A pressão estética a afastou temporariamente dos desfiles, uma época em que a quadra se tornou um lugar de lágrimas, não de alegria.

Apesar das adversidades, Pâmella encontrou força em sua própria definição de beleza. "Hoje, para mim, o padrão sou eu também", afirma com convicção. Essa mudança de perspectiva não apenas a reintegrou ao Carnaval, mas também a estabeleceu como uma referência de inclusão e diversidade na festa mais icônica do Brasil.

A jornada de Pâmella no samba foi pontuada por episódios de rejeição e preconceito, especialmente em momentos em que sua presença como passista plus size foi questionada. No entanto, sua determinação e o apoio de aliados na comunidade do samba a ajudaram a superar esses obstáculos. "Eu não quero essa menina na ala, ela não está enquadrando com as passistas", foram palavras de um diretor da Porto da Pedra, que não abalaram a determinação de Pâmella ou de seus apoiadores.

A aceitação veio com reconhecimento e um espaço para brilhar no Salgueiro, onde Pâmella tornou-se a primeira passista plus size do Carnaval carioca. O título de Gordelícia do Samba, sugerido por uma amiga e uma "tia da comunidade", não é apenas um apelido, mas um símbolo de sua luta contra a gordofobia e sua jornada de autoaceitação.

Além de enfrentar estigmas relacionados ao seu corpo, Pâmella também lutou contra um câncer de mama, descoberto durante a pandemia. Essa batalha trouxe novos desafios e lições, fortalecendo ainda mais sua resiliência. "Eu chorava, gritava e me perguntava o porquê", conta sobre o diagnóstico. A passista não só enfrentou a doença com bravura, mas também aprendeu a sambar na cara da sociedade, transformando sua dor em força e inspiração.

Pâmella não apenas redefiniu os padrões de beleza e força no Carnaval, mas também inspirou sua família a seguir seus passos. Sua filha Paolla, de 20 anos, já é musa da comunidade da Porto da Pedra, e Pollyana, de apenas 4 anos, sonha em ser passista como a mãe e a irmã.