Dia Mundial de Conscientização do Autismo: casos são cada vez mais comuns

Especialistas explicam a importância do diagnóstico precoce

Por Layara Andrade

02/04/2021 14h19 - Atualizado há cerca de 3 anos

Nesta sexta-feira (02), celebra-se o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, que é um transtorno do neurodesenvolvimento. A data serve para levar mais informação à população, tendo em vista que o número de casos de autismo vem aumentando com o decorrer dos anos. 

De acordo com dados do documento divulgado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças, em 2020, uma a cada 54 crianças vivem com o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Em 2004, o número divulgado pelo CDC era de 1 a cada 166. 

Especialistas ainda não sabem a causa específica, mas a pediatra Andreza Juliani Gilio acredita que, esse aumento pode ter uma relação, principalmente, com o crescimento da conscientização e o crescimento da divulgação sobre o tema. De acordo com ela, enquanto outros países já faziam o diagnóstico desde os anos 70 e 80, no Brasil, o assunto só começou a ser discutido em meados de 2000. 

Outros profissionais consultados pelo Plox afirmam que a alteração alimentar do ser humano, o uso de telas de equipamentos eletrônicos e até mesmo alterações genéticas podem ser fatores para desencadear o TEA.   

A médica explica ainda que, para o diagnóstico, é necessário uma equipe multidisciplinar; “formada por um médico, pediatra ou neurologista que trabalhe com o desenvolvimento infantil, terapeuta ocupacional, psicólogo, psicopedagogo, fonoaudiólogo, entre outros profissionais da saúde”. 

“É imprescindível que o pediatra faça um teste com algumas perguntas para os pais ou cuidadores de crianças, que tenham entre 1 e 2 anos, através de testes validados que resultam em um score. Esse critério não é um diagnóstico, mas uma triagem para identificar os sintomas. Se o score apontar um risco, o caso é encaminhado para investigação por pessoas habilitadas da área do neurodesenvolvimento, para que se tenha o diagnóstico de confirmação”, conta. 

Em alguns casos, o diagnóstico vem cedo. Como é o caso do pequeno Raul, morador de Timóteo-MG, que foi diagnosticado com um ano e sete meses. A mãe conta que ele se desenvolveu dentro do esperado até os quatro meses. “Depois disso ele começou a apresentar alguns atrasos... Eu já tinha outros dois filhos, por isso não foi difícil identificar esses atrasos”, contou Bruna Barbosa.

“Ele começou a andar sozinho com dez meses. Nessa idade, já não olhava nos olhos, não interagia, não ria, não brincava com os irmãos”. Com 11 meses, o pequeno foi encaminhado à neuropediatria, mas a mãe conta que a médica não identificou nada. “Ela pediu para voltar quando Raul fizesse dois anos. Eu pedi que o encaminhasse à terapia. Na primeira consulta, a neuropsicóloga já bateu o martelo que o Raul tinha autismo, sim”, contou. 

Foto: arquivo pessoal

 

Hoje, Raul tem três anos e estava no primeiro ano escolar. Antes da pandemia, jogava futebol e brincava nas pracinhas. “Isso afetou diretamente no desenvolvimento dele. Ele estava começando a melhorar na socialização e interação com outras crianças. A comunicação com os pares, crianças da mesma idade, também foi afetada [pela pandemia]”, disse Bruna. 

“No início, foi muito difícil e tivemos que nos reinventar. Intensificamos as terapias em casa com o conhecimento adquirido durante esse tempo e com o suporte das terapeutas, na medida do possível. Nossa rotina ficou mais apertada pois precisamos nos transformar nos "coleguinha" pra brincar, conversar…” contou a mãe. 

Autismo em adultos

Nem sempre os casos são diagnosticados na infância. A psiquiatra especialista em infância e adolescência, Jaqueline Bifano, explica que, nas crianças, os sinais são mais claros. Nos adultos, às vezes, se é um grau mais leve, ele pode já ter se adaptado. “Nos adultos, os sinais são mais sutis, o profissional precisa ter uma boa experiência para identificar. O adulto vai se modelando e criando suas próprias adaptações”.

Um exemplo disso é a contadora e escritora de romances, e moradora de Timóteo, Fernanda Santana, que recebeu o diagnóstico aos 30 anos. Em um de seus livros, ela criou um personagem autista e pesquisou sobre o assunto. “Foi nesse aprofundamento que eu percebi semelhanças em mim e comecei a assistir vídeos sobre as características de autistas adultos. Anotei tudo e levei para a psicóloga que ainda me acompanha”, conta. 

Foto: arquivo pessoal

 

Fernanda procurou uma neurologista, que se recusou a dar o encaminhamento para o teste que avalia e aponta TEA. “Essa médica disse que era impossível eu ser autista porque sou "resolvida", já que sou casada, trabalho e sou independente”, relata. 

A escritora conta que, após conseguir o encaminhamento com outra profissional, foram oito sessões de testes para chegar ao resultado. “Eu precisava levar esse laudo em um médico para me dar o diagnóstico oficial. Procurei uma psiquiatra e ela também não quis me dar o diagnóstico e me tratou muito mal, distorcendo as minhas intenções com aquele resultado”, disse Fernanda. 

Fernanda só conseguiu colocar um ponto final na história quando procurou novamente outra neurologista que leu todo o laudo e concordou com o resultado: autismo aos 30 anos. 

A especialista Jaqueline Bifano explica ainda que, em alguns casos, os pais não notaram os sinais na infância, “simplesmente achavam que era diferente”. Ela ressalta que, hoje, os sinais nos adultos dependem do grau de transtorno que esse indivíduo apresentou na infância. “Pode ser uma pessoa que tem manias e que não gosta de interagir”.

Jaqueline Bifano enfatiza a importância do diagnóstico mais cedo possível. “É importante quando mais rápido conseguir intervir, a chance do prognóstico ser melhor é maior. Cada criança é avaliada individualmente, a partir disso, cria-se um plano terapêutico e vamos trabalhar o que é preciso”. 

Cordão de girassol 

O cordão de girassol é usado por pais ou pessoas que possuem alguma deficiência oculta, quando não é possível identificar ao olhar breve. Ao usar esse cordão em um lugar público, outras pessoas podem identificar que aquele indivíduo ou aquela família pode precisar de algum apoio, como ceder o lugar, por exemplo. 

Foto: arquivo pessoal

 

No Vale do Aço, a jornalista e influenciadora digital, Layane Óliver, mãe do pequeno Antônio, diagnosticado com dois anos e sete meses, iniciou um projeto para criar uma onda de apoio na região. “De início, eu comprei 50 cordões e dei para algumas mães. Depois, busquei parceria e hoje foi possível a distribuição de 500 cordões aqui no Vale do Aço”, relata. Os cordões estão disponíveis em pontos estratégicos para a retirada e são gratuitos. 

Foto: divulgação

 

“Estamos levando a conscientização para as pessoas, mostrando que o autismo não é o fim do mundo e nem tem cara. Precisamos acabar com o tabu e o preconceito que existe”, enfatiza Layane.

Legislação 

A lei federal 12.764/2012, institui a política nacional de proteção dos direitos da pessoa com transtorno do espectro autista e considera o transtorno como deficiência e prevê que políticas públicas devem ter atenção integral às necessidades dos portadores de TEA. 

Em 2020, foi sancionada a lei  13.977/20, batizada com o nome Romeu Mion, filho do apresentador Marco Mion. A lei institui a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. O documento garante prioridade de atendimento em serviços públicos e privados. 

 

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