Viúva de catador baleado em ação do Exército afirma: “Pobre não tem valor”

Viúva fala pela primeira vez sobre o ocorrido

Por Plox

02/05/2019 12h02 - Atualizado há cerca de 5 anos

Dayana Horrara da Silva, 27 anos, grávida de 5 meses e viúva de Luciano Macedo, 28, catador de materiais recicláveis, desabafa pela primeira vez: “Vai ser difícil olhar para o rosto da minha filha e lembrar de tudo. Não sei nem o que vou falar quando ela perguntar quem é o pai dela” .

(Foto: reprodução)(Foto: reprodução)

Luciano morreu na tentativa de ajudar a família do músico Evaldo Rosa, que teria sido fuzilada pelo Exército com 80 tiros no dia 7 de abril, no Rio de Janeiro. A entrevista com Dayana foi produzida por Antonio da Costa, da ONG Rio de Paz, e veiculada pelo jornal O Globo. Dayana narrou os momentos que passou junto ao marido. 

A viúva cita que eles tinham acabado de lanchar e deixavam a favela quando ouviram os disparos. “Ele me puxou e me mandou abaixar entre os carros. De repente, o barulho parou e ficou todo mundo em silêncio. Ele então falou: ‘vamos sair daqui', relata Dayana.

Então ouviram os gritos por socorro de Luciana Nogueira, 41, viúva do músico baleado enquanto dirigia o próprio carro. Segundo a viúva, o catador viu o filho do casal e se prontificou a ajudar. Após tirar a criança do carro, Luciano tentou salvar o músico. “Ele deu a volta no carro e viu o homem, que tentou falar, mas não conseguiu.  Então falei: ‘Luciano, deixa ele aí. Ele acabou de morrer'".

Mais tiros aconteceram, segudo Dayana, que relembra: "Quando olhei pro lado, ele já estava baleado. Me pediu ajuda. Eu não tava nem acreditando que tava vendo aquilo”. relata ainda que ouviu um soldado zombando o casal e suplicou: “Meu marido não era bandido. Ele olhou pra mim e falou ‘é bandido sim'”.

A viúva ainda afirmou: “Hoje foi meu marido, amanhã vai ser outro. Infelizmente, um pobre que mora em favela não tem valor”

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