Carlos Lupi entrega o cargo após crise das fraudes no INSS
Ministro da Previdência deixa o governo em meio a pressões por omissão diante de esquema que desviou bilhões de aposentadorias
Por Plox
02/05/2025 18h08 - Atualizado há cerca de 20 horas
O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, deixou o comando da pasta nesta sexta-feira (2), após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto. A decisão ocorre em meio à pressão gerada pelo escândalo das fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), responsável por perdas de pelo menos R$ 6,3 bilhões entre os anos de 2019 e 2025.

Lupi confirmou sua saída por meio de publicação em sua conta na rede social X. Logo após, o Palácio do Planalto anunciou o nome do novo titular da pasta: Wolney Queiroz, ex-deputado federal e atual secretário-executivo do ministério. A exoneração de Lupi e a nomeação de Queiroz devem ser formalizadas ainda hoje, em edição extra do Diário Oficial da União.
Mesmo sem provas que apontem diretamente o envolvimento de Lupi no esquema, as investigações da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU) indicam que o então ministro foi omisso. Lula, que inicialmente pretendia mantê-lo no cargo, acabou cedendo à pressão após constatar que o assunto havia sido discutido ainda em junho de 2023 no Conselho Nacional de Previdência Social, presidido por Lupi. Entretanto, nenhuma providência efetiva foi tomada até abril de 2024. Os descontos ilegais nas aposentadorias continuaram até o fim de abril de 2025, quando a PF deflagrou uma operação para suspender o esquema.
Em audiência na Câmara dos Deputados, Lupi admitiu ter conhecimento das denúncias, mas se eximiu de responsabilidade direta sobre o INSS. Ele afirmou que o comando do órgão cabia ao presidente da autarquia, e não ao ministério. Segundo Lupi, uma conselheira alertou sobre o aumento incomum no número de filiações a sindicatos, levantando suspeitas de fraude, e ele teria pedido que o assunto fosse averiguado.
A relação entre o ministro e o presidente Lula também foi abalada após a operação da PF. Lula exigiu a demissão do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, mas Lupi se recusou, defendendo publicamente o servidor como um exemplo. O presidente decidiu então demitir Stefanutto por conta própria e nomeou Gilberto Waller Júnior para o cargo. A decisão bypassou o ministro e foi interpretada como um sinal claro de que Lupi já não tinha mais a confiança do Planalto.
A operação da PF revelou um esquema nacional de descontos associativos indevidos feitos por sindicatos diretamente em aposentadorias e pensões. De acordo com as investigações, o prejuízo gira em torno de R$ 6,3 bilhões, embora o governo ainda precise identificar a extensão dos valores efetivamente ilegais.
Durante a ação policial, foram expedidos 211 mandados judiciais, entre eles de busca e apreensão, sequestro de bens no valor de R$ 1 bilhão e seis prisões temporárias. Os alvos foram alcançados em 13 Estados e no Distrito Federal. Além de Stefanutto, outros cinco dirigentes do INSS foram afastados, incluindo um agente da PF lotado no Aeroporto de Congonhas, que, segundo a investigação, dava suporte ao esquema.
Os envolvidos poderão ser responsabilizados por crimes como corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos, organização criminosa e violação de sigilo funcional.
\"Deve ser fraude\", alertou a conselheira Antonia durante uma reunião do conselho, segundo Lupi.