PF revela esquema de R$ 1,7 bilhão com laranjas no INSS
Associações usavam beneficiários de programas sociais como dirigentes enquanto empresários e lobistas lucravam com descontos indevidos
Por Plox
02/05/2025 11h27 - Atualizado há 1 dia
A Polícia Federal revelou um amplo esquema de fraudes envolvendo entidades que firmaram acordos com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Pelo menos sete associações estão no centro das investigações, que identificaram o uso de laranjas como dirigentes formais. Essas associações movimentaram, juntas, R$ 1,7 bilhão desde o início dos contratos com o INSS.

Entre os nomes que aparecem na linha de frente dessas entidades, estão beneficiários de programas sociais como o Bolsa Família e o Auxílio Brasil, aposentados com rendas modestas e até uma faxineira. De acordo com a PF, essas pessoas serviam apenas como fachada, enquanto empresários e lobistas operavam os recursos e os contratos, lucrando com descontos indevidos aplicados aos benefícios dos aposentados.
Um exemplo citado é a Associação dos Aposentados e Pensionistas do Brasil (AAPB), que firmou acordo com o INSS em 2021. Desde então, já recebeu R$ 168 milhões. À época da assinatura, a presidente da entidade era Raimunda da Cunha, com 81 anos. Ela concedeu poderes plenos ao advogado Roberto Marinho Luiz da Rocha, envolvido nas movimentações financeiras da associação. A AAPB também realizou pagamentos a Cecília Mota, investigada por operar repasses a servidores do INSS.
Outra associação, a AAPEN, presidida por Maria Eudenes dos Santos — beneficiária de programas assistenciais — recebeu R$ 233 milhões. A entidade havia sido expulsa pelo INSS em 2019, mas foi readmitida no ano seguinte, durante a gestão de André Fidelis, ex-diretor do órgão e suspeito de receber propinas. Maria Eudenes concedeu procuração a Tiago Alves de Araújo, que viajou a Portugal 15 vezes com Cecília Mota e recebeu R$ 120 mil do escritório dela.
A Unaspub, por sua vez, tinha como presidente formal Maria das Graças Ferraz, aposentada por incapacidade. Ela também deu plenos poderes a Antônio Lúcio Caetano Margarido, empresário do setor de seguros envolvido em movimentações milionárias. A empresa do “Careca do INSS”, como ficou conhecido o lobista Antonio Camilo Antunes, aparece entre as beneficiárias da associação.
A associação Universo também entra na lista das investigadas. Comandada formalmente por Valdira Prado, de 79 anos, a entidade foi credenciada em 2022 e já faturou R$ 255 milhões. Há indícios de que pagamentos de propina tenham sido feitos por meio de uma empresa de marketing esportivo.
Por fim, o trio de entidades Ambec, Unsbras (atualmente Unabrasil) e Cebap — que juntas movimentaram R$ 852 milhões — inclui diretores registrados que são parentes ou funcionários de empresas ligadas a Maurício Camisotti. Em um dos casos, uma faxineira de uma das empresas foi nomeada como diretora formal. As credenciações ocorreram entre 2021 e 2023, sob direção de nomes como José Carlos de Oliveira, Edson Yamada e André Fidelis.
O esquema causou um impacto direto na fila de espera por benefícios e gerou prejuízo operacional de R$ 5,9 milhões ao INSS, segundo a PF
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As investigações seguem em andamento e revelam a complexa rede de fraudes e favorecimentos envolvendo empresários, lobistas, servidores públicos e cidadãos comuns usados como laranjas.