A dor da perda se transformou em indignação para a família de José Orton Sathler, de 55 anos, após descobrirem que o corpo dele foi cremado por engano no cemitério Bosque da Esperança, localizado na região Norte de Minas Gerais. O caso, que remonta a abril de 2021, veio à tona somente na última sexta-feira (30), quando uma exumação revelou a troca dos restos mortais.
José morreu em decorrência da Covid-19 durante a pandemia. Na época, a família optou por um jazigo provisório e realizou o sepultamento com uma breve cerimônia. De acordo com sua filha, Josiane Sathler, a família se despediu do pai em uma cerimônia rápida, e todos puderam vê-lo pela urna com visor.
Contudo, três anos depois, durante o processo de exumação, os familiares descobriram que os ossos encontrados no local pertenciam a uma mulher. A revelação foi feita após observarem que a ossada possuía uma platina no fêmur, o que José não tinha. A filha relatou que, ao solicitarem a exumação em 2023, foram informados de que o corpo ainda não havia se decomposto totalmente.
“A verdade é que, quando fizemos o primeiro pedido de exumação, ele já havia sido retirado do local. Só que como os corpos estavam trocados, meu pai foi cremado e as cinzas dispersadas ao vento”, lamentou Josiane, descrevendo a situação como um desfecho trágico para a história da família.
Em nota, o Cemitério Bosque da Esperança admitiu o erro e declarou que os funcionários envolvidos foram demitidos. A administração afirmou que houve uma inversão nos horários dos sepultamentos em 2021, devido a atrasos logísticos provocados pela pandemia, o que acabou causando a troca dos corpos no jazigo.
Segundo o cemitério, apesar dos corpos estarem devidamente identificados, o corpo de José foi sepultado na posição errada. Durante uma nova exumação em 2024, a falha foi descoberta por meio de uma cápsula de identificação — um procedimento de segurança adotado pela empresa.
A nota ainda ressalta que a família foi imediatamente informada e convidada a participar do processo de verificação. A empresa se comprometeu a prestar todos os esclarecimentos necessários com transparência e respeito.
Já a Polícia Civil de Minas Gerais informou que não abrirá investigação criminal sobre o caso. Segundo o órgão, não houve dolo na troca dos corpos, o que afasta a possibilidade de enquadramento no crime de vilipêndio a cadáver. No entanto, a família poderá buscar responsabilização na esfera cível, caso deseje.
Josiane também contou que sua mãe, que esteve internada com Covid-19 na época da morte de José, não pôde participar do velório e sonhava com uma segunda despedida. “O sonho dela era fazer uma nova cerimônia, com os restos mortais do meu pai. Agora, ele virou poeira no ar. Foram 48 anos de união, e a despedida foi tirada dela pela doença e pelo erro”, concluiu.