Estação seca prolongada eleva risco de queimadas em Minas Gerais

Minas Gerais abriga um vasto bioma do cerrado, o segundo maior da América do Sul, atrás apenas da floresta amazônica.

Por Plox

02/07/2023 08h19 - Atualizado há cerca de 1 ano

Conforme avança o inverno em Minas Gerais, a previsão de uma estação seca prolongada e intensa aumenta o risco de uma temporada crítica de queimadas. Até 22 de junho deste ano, mais de 4.300 ocorrências de incêndios já devastaram áreas verdes em todo o estado, e o Corpo de Bombeiros tem lutado contra 1.147 focos de incêndio desde o início do mês passado.

A situação é agravada pela seca esperada, que deve ser particularmente severa este ano, e pelas ações humanas, que são o principal gatilho para incêndios em vegetação. Uma preocupação adicional é que muitos desses incêndios atingem unidades de conservação.

 

Foto: Reprodução

A vulnerabilidade do Cerrado

Minas Gerais abriga um vasto bioma do cerrado, o segundo maior da América do Sul, atrás apenas da floresta amazônica. Embora a vegetação do cerrado seja naturalmente adaptada para resistir às chamas, não está preparada para enfrentar incêndios de grande porte, normalmente provocados pela ação humana. O professor Bernardo Gontijo, do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), salienta que a vegetação seca torna-se altamente propensa à queima durante a estação seca.

Cristiano Reis, coordenador da Brigada Florestal Voluntária Guardiões da Serra, destaca que existem dois tipos principais de ignição natural: um causado por descargas elétricas e outro devido à intensa incidência solar em partículas refletoras, como vidro. No entanto, o fogo causado por esses fatores tende a se expandir pouco, ao contrário dos incêndios de grande proporção que geralmente resultam da ação humana.

Locais mais vulneráveis

As áreas do Parque Nacional da Serra do Cipó e da Lapinha da Serra, próximas a Belo Horizonte, são especialmente vulneráveis à intensificação das chamas. Áreas que não queimaram no ano passado são ainda mais suscetíveis, pois contêm material orgânico acumulado que alimenta o fogo.

Os incêndios tendem a se tornar mais frequentes no final deste mês, com um pico entre agosto e setembro, de acordo com Cristiano Reis.

Incêndios provocados pela ação humana

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou até maio deste ano 220 focos de incêndio em áreas desmatadas do estado, além de 176 incêndios em florestas, 35 em áreas reflorestadas e 20 em áreas recentemente desmatadas. Cristiano Reis ressalta que muitos incêndios nos últimos anos foram associados à exploração pecuária, com pastos sendo abertos com fogo, provocando a propagação de incêndios em vegetações próximas.

O papel crucial da educação ambiental

Uma das principais estratégias para combater o aumento dos incêndios é a educação ambiental. A Brigada Voluntários da Serra organiza palestras e reuniões com moradores para orientá-los sobre os perigos de atear fogo durante a época da seca.

Ações preventivas

Outra estratégia eficaz é o manejo integrado do fogo, uma medida que consiste em queimadas controladas no fim da temporada de chuvas, entre abril e maio, para diminuir a quantidade de material combustível no solo.

A seca e o fenômeno El Niño

O meteorologista Ruibran dos Reis, do Instituto Climatempo, prevê uma seca severa este ano devido à atuação do fenômeno El Niño, que traz chuvas acima da média

A questão da ação humana e o perfil das queimadas

No universo das queimadas, os especialistas apontam que não todas são iniciadas de maneira natural. Cristiano Reis, coordenador da Brigada Florestal Voluntária Guardiões da Serra, que atua na região da Lapinha da Serra, explicou que duas situações comuns de ignição natural são causadas por descargas elétricas e pela intensa incidência solar sobre partículas refletoras, como vidro.

Entretanto, o professor Bernardo Gontijo, da UFMG, enfatiza que a maioria dos incêndios de grandes proporções são causados por ação humana. "Qualquer incêndio em grande proporção, dependendo da época do ano, pode-se ter certeza de que 90%, ou mais, é fruto de ação humana. Deliberada ou não," afirmou o professor.

Áreas de vulnerabilidade em Minas Gerais

A proximidade de BH com áreas vulneráveis como o Parque Nacional da Serra do Cipó e da Lapinha da Serra traz uma preocupação adicional. Segundo Cristiano Reis, as áreas que não queimaram no ano anterior são mais suscetíveis a incêndios, devido ao acúmulo de matéria orgânica seca que alimenta as chamas.

Ele observou que os incêndios tendem a se tornar mais frequentes no fim de julho, com pico entre agosto e setembro. "O fogo é vivo, e ele anda muito," testemunhou Reis.

Estatísticas do Inpe e a questão do desmatamento

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicam que até maio deste ano ocorreram 220 focos de incêndio em áreas desmatadas do estado, outros 176 em florestas, 35 em áreas já reflorestadas e 20 em áreas recentemente desmatadas.

Cristiano Reis apontou a exploração pecuária como um fator associado a muitas ocorrências de incêndio. Ele informou que pastos são abertos com o uso de fogo, que acaba por se alastrar para vegetações próximas. "Nas áreas de preservação, o fogo entra pelos vizinhos. São eles que colocam fogo no entorno, para abrir pasto, e as chamas acabam invadindo as áreas de preservação," explicou Reis.

A importância da educação ambiental

Na luta contra o aumento das ocorrências de incêndio, a educação ambiental se apresenta como uma das principais ferramentas, com ênfase na atuação preventiva. Cristiano Reis refere-se a essas ações como combate ao "fogo que não existe". Ele acredita que com a disseminação das informações necessárias os riscos tendem a diminuir.

Nesse contexto, a Brigada Voluntária da Serra organiza palestras e reuniões com a população local, orientando sobre os perigos de atear fogo em materiais combustíveis durante a época de seca. "Para que a gente tenha uma situação de fogo zero, precisamos iniciar o combate com a educação ambiental agora," afirmou Cristiano Reis.

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