Surto letal: ração contaminada mata nove cavalos em Guarulhos
Ministério da Agricultura proíbe venda de produtos da Nutratta após mortes de equinos em SP e outros estados
Por Plox
02/07/2025 18h28 - Atualizado há 1 dia
O cenário na chácara Dia de Sol, localizada na zona rural de Guarulhos, transformou-se em um retrato de tragédia nos últimos dois meses. Nove cavalos morreram após consumirem rações produzidas pela empresa Nutratta Nutrição Animal Ltda., conforme relatado pelo comerciante e criador Marcos Barbosa. Ele descreveu comportamentos anormais nos animais, como andar em círculos e tentativas de morder paredes, sintomas que associou a uma espécie de demência.

A primeira morte foi registrada em 16 de maio, e desde então, os casos se multiplicaram. Barbosa suspendeu o uso da ração imediatamente, mas cerca de 30 animais já haviam sido alimentados com o produto. Os sintomas observados incluíam desorientação, alterações de comportamento, distúrbios no sono e dificuldades de locomoção.
Em resposta às mortes, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) determinou, em 17 de junho, o recolhimento de todos os produtos da Nutratta destinados a equídeos fabricados a partir de novembro de 2024. Posteriormente, em 25 de junho, a comercialização desses produtos foi proibida após a constatação da presença de substâncias tóxicas nas rações.
As análises realizadas pelo Mapa identificaram a presença de monocrotalina, uma toxina encontrada em plantas do gênero crotalária, conhecida por ser hepatotóxica e neurotóxica, podendo ser fatal para diversos animais. Os primeiros casos de intoxicação surgiram em abril no Rio de Janeiro, com a primeira morte registrada em São Paulo no mesmo mês. Os animais afetados apresentavam sinais neurológicos agudos que evoluíam rapidamente para a morte.
Além de Guarulhos, outras cidades como Indaiatuba e Itu também registraram mortes de cavalos associadas ao consumo da ração da Nutratta. Em Indaiatuba, foram confirmadas 29 mortes, enquanto em Itu, 13 cavalos morreram e mais de 20 ficaram doentes. A Promotoria de Justiça do Consumidor de São Paulo abriu investigação preliminar para apurar os casos.
A Nutratta Nutrição Animal Ltda. afirmou estar colaborando com as autoridades e adotando medidas para mitigar os efeitos da situação, incluindo suporte técnico aos clientes e revisão de seus processos internos. No entanto, a empresa conseguiu uma liminar na Justiça Federal para restabelecer seu funcionamento quanto à atividade de produção e comércio dos produtos não destinados a equinos.
O Ministério da Agricultura continua realizando ações de campo, incluindo necropsias, coletas de amostras e levantamentos nas propriedades com ocorrência dos casos, para identificar os fatores relacionados às mortes dos animais. A pasta reforça que é responsabilidade do fabricante adotar medidas imediatas de autocorreção, incluindo o recolhimento dos lotes afetados.