Alta de 113% nas remoções de próteses revela onda crescente de reversão estética
Explantes e dissoluções de preenchimentos disparam no Brasil e em outros países; especialistas apontam riscos físicos e impacto emocional
Por Plox
02/08/2025 10h06 - Atualizado há 1 dia
Nos últimos anos, um novo movimento vem ganhando força entre os que antes buscavam procedimentos estéticos: a reversão. A remoção de próteses e o desfazimento de intervenções como preenchimentos e harmonizações faciais cresceram de forma expressiva, revelando uma mudança de mentalidade sobre os padrões de beleza artificializados.

No Brasil, os números impressionam. Dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética mostram que a quantidade de explantes de próteses mamárias mais que dobrou entre 2019 e 2023, saltando de 19.355 para 41.314 procedimentos. Essa tendência não é exclusiva do país. No Reino Unido, por exemplo, a Associação Britânica de Cirurgiões Plásticos Estéticos constatou uma queda de 27% na procura por preenchimentos faciais somente em 2023. Já nos Estados Unidos, dissoluções dessas substâncias aumentaram 57% entre 2020 e 2021.
Apesar de não haver registros oficiais no Brasil sobre dissoluções de preenchimentos, especialistas relatam aumento visível na demanda por reversões, especialmente no caso de harmonizações faciais com ácido hialurônico. Segundo o dermatologista Daniel Coimbra, da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), o excesso ou a má aplicação desse tipo de substância compromete os resultados e afeta diretamente a autoestima de quem se submete ao procedimento.
As áreas mais afetadas, de acordo com os profissionais, são os lábios, as olheiras e a mandíbula. Para esses casos, o método mais comum de reversão é a aplicação da enzima hialuronidase, capaz de dissolver o ácido hialurônico. Contudo, a complexidade aumenta quando foram usados materiais permanentes como o polimetilmetacrilato (PMMA) ou o silicone, tornando a reversão difícil ou até mesmo impossível.
Celebridades também têm se rendido ao retorno à naturalidade. Gracyanne Barbosa e Scheila Carvalho estão entre as que decidiram remover os produtos do rosto. Além da estética, razões clínicas pesam na decisão. O cirurgião plástico Murillo Fraga, do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que substâncias como o ácido hialurônico, embora absorvíveis, podem causar inflamações e inchaços persistentes. Já os bioestimuladores, cada vez mais comuns, podem formar nódulos, exigindo até intervenção cirúrgica.
Nos casos de próteses mamárias, os motivos para explante incluem complicações como contratura capsular, ruptura do implante e a síndrome autoimune induzida por adjuvantes (ASIA), também conhecida como “doença do silicone”. Dores musculares, fadiga e inflamações generalizadas estão entre os sintomas relatados.
A questão emocional também tem papel relevante nesse cenário. Segundo a psicóloga Rogéria Taragano, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, muitos pacientes passam a não se reconhecer após as mudanças, o que gera desconforto emocional e sensação de desconexão com a própria imagem. Esse quadro pode estar relacionado ao Transtorno Dismórfico Corporal (TDC), no qual há uma percepção distorcida da aparência.
Uma meta-análise publicada na Revista Brasileira de Cirurgia Plástica indica que cerca de 12,5% dos que procuram procedimentos estéticos apresentam indícios de TDC. As redes sociais também são apontadas como grandes influenciadoras nesse processo, ao promoverem padrões inalcançáveis de beleza. Filtros e edições de imagem criam expectativas irreais, especialmente entre os jovens, gerando frustrações e impactando a autoestima.
O crescimento na busca por reversões revela um novo momento na estética, em que a naturalidade e o bem-estar parecem, cada vez mais, superar o desejo de transformações radicais.