Governo Lula busca saída diplomática para tarifas impostas por Trump

Especialistas apontam que medidas dos EUA não representam recuo e destacam importância da persistência brasileira no diálogo

Por Plox

02/08/2025 09h29 - Atualizado há 2 dias

O impasse comercial entre Brasil e Estados Unidos ganhou novos contornos após o anúncio da Casa Branca, que adiou para o dia 6 de agosto a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros como carne e café. A decisão, entretanto, não foi vista por analistas como sinal de recuo por parte do governo de Donald Trump, uma vez que não houve qualquer avanço em negociações formais com Brasília.


Imagem Foto: Presidência


O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) tem sido o principal articulador do governo federal nas tratativas, que buscam minimizar os efeitos da medida sobre a economia brasileira. O professor João Romero, do Cedeplar-UFMG, classificou a postura do Brasil como “a mais sensata possível”, destacando que a atitude americana é agressiva.
\"A tentativa de diálogo foi a melhor resposta diante de uma ação hostil como essa. Mas, sem abertura por parte dos Estados Unidos, não havia margem para avançar\"

, afirmou o especialista.


Segundo Romero, a aplicação das tarifas poderá provocar uma queda inicial nos preços de alimentos exportados, beneficiando o consumo interno. Porém, a médio e longo prazo, o cenário pode se inverter. “Se os setores atingidos não encontrarem novos mercados, a tendência é de queda na produção e no nível de emprego”, explicou.


Paralelamente, tentativas de senadores e governadores brasileiros de abrir um canal direto com Washington foram vistas pelo professor como reflexo da desorganização institucional norte-americana. “Essas ações personalistas não devem render frutos, dado o desmonte da política externa tradicional dos EUA”, analisou Romero.


A professora Patrícia Nasser, também da UFMG, reforça que o Brasil tem demonstrado disposição para o diálogo, tanto por meio do Itamaraty, liderado por Mauro Vieira, quanto pela mobilização empresarial conduzida por Alckmin. Para ela, é fundamental manter a firmeza nas negociações sem abrir mão de demonstrar incômodo com as acusações feitas pela Casa Branca.



Uma carta publicada por Trump nas redes sociais, endereçada ao presidente Lula, acusou o governo brasileiro de representar uma “ameaça incomum e extraordinária” à segurança dos EUA. O documento critica processos judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e acusa autoridades brasileiras de censurar empresas americanas.


Patrícia lembrou que argumentos semelhantes já foram utilizados por Trump contra países como a China e vê nesse discurso uma conexão política e ideológica com a família Bolsonaro. “Esse tipo de justificativa não é novo. Há um claro desconforto dos EUA com os rumos internos do Brasil sob Lula”, disse.


Para a especialista, a melhor estratégia seria manter a paciência e insistir no diálogo em várias frentes — empresarial, ministerial ou bilateral. “Trump não vai durar para sempre no poder. O Brasil deve buscar alternativas temporárias, mas sempre com foco em uma solução diplomática mais equilibrada para ambas as economias”, concluiu.



Enquanto isso, o governo brasileiro avalia utilizar parte dos alimentos afetados pela taxação para abastecer programas como a merenda escolar, uma alternativa para atenuar os impactos internos. A expectativa é que, mesmo com as tensões atuais, o histórico de relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos pese a favor de uma solução futura mais harmoniosa.


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