Centrão se une à oposição e prepara votação da anistia após julgamento de Bolsonaro

Em Brasília, a pressão da oposição pela anistia aos réus da tentativa de golpe ganhou novo fôlego com a adesão dos principais partidos do Centrão. A proposta pode beneficiar diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), atualmente réu no Supremo Tribunal Federal (STF).

Foto: Agência Senado

O movimento passou a ser conduzido por legendas como União Brasil, comandado por Antonio Rueda, e PP, sob liderança de Ciro Nogueira. O Republicanos também se alinhou, respaldado pelo interesse em garantir que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, possa herdar o capital político de Bolsonaro. Tarcísio, inclusive, assumiu protagonismo nas negociações.

As articulações se intensificaram no início da semana, quando o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), visitou Bolsonaro em prisão domiciliar. Paralelamente, o STF iniciou nesta terça-feira (2/9) o julgamento do ex-presidente e de outros sete integrantes do núcleo central da trama golpista. A ideia é que a votação da anistia aconteça logo após a conclusão do processo.

“Tem uma construção para pauta [a anistia] depois do julgamento. Existe esse movimento, essa articulação, essa pressão muito grande…”

“Estão construindo, à luz do dia, as condições para votar depois do julgamento, com participação do governador de São Paulo e movimentações dos grandes partidos. É uma desmoralização.”

O projeto de anistia esteve parado durante a gestão de Arthur Lira na presidência da Câmara. Ele impediu que a proposta fosse votada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), transferindo a análise para uma comissão especial. Desde então, o tema ficou sob responsabilidade de Hugo Motta (Republicanos-PB), indicado por Lira para sucedê-lo no comando da Casa.

As cobranças sobre Hugo se intensificaram a cada avanço das investigações contra Bolsonaro. Em agosto, a tensão atingiu o ápice quando deputados da oposição obstruíram fisicamente o plenário por 34 horas, impedindo sessões até que a votação da anistia e da PEC do Fim do Foro fosse garantida. Embora o presidente da Câmara não tenha se comprometido, Arthur Lira articulou um acordo com líderes do Centrão e do PL para aliviar a pressão.

Com o julgamento de Bolsonaro em andamento e o calendário eleitoral se aproximando, a adesão do Centrão à pauta da anistia ganhou novo impulso. União Brasil e PP já ensaiam até nomes para relatar a proposta em plenário, buscando garantir que o relator seja de suas fileiras. A federação entre os dois partidos pode ser decisiva nesse processo.

A movimentação também sinaliza o distanciamento gradual dessas siglas do governo Lula, antecipando o posicionamento que devem adotar nas eleições presidenciais do próximo ano.