Origem contestada impede exportação de diamante gigante de Minas
Pedra de 646 quilates pode ter sido extraída em Araguari, mas foi registrada em Coromandel; valor abaixo do mercado e desistência de certificação reforçam desconfiança
Por Plox
02/09/2025 09h06 - Atualizado há 2 dias
O segundo maior diamante já encontrado no Brasil está no centro de uma investigação da Polícia Federal, que apura suspeitas de desvio e inconsistências em sua origem. A pedra, com impressionantes 646,78 quilates (129,36 gramas), foi retida no estado de Minas Gerais após suspeitas de que não teria sido extraída em Coromandel, como declarado, mas sim em Araguari, a 154 quilômetros de distância.

A Diadel Mineração, empresa que apresentou o diamante, chegou a iniciar o processo de obtenção do Certificado do Processo de Kimberley (CPK), necessário para a exportação legal da gema. No entanto, no dia marcado para a certificação, a própria empresa solicitou o cancelamento do processo, gerando estranheza no mercado de gemas preciosas.
Simultaneamente, a Agência Nacional de Mineração (ANM) e a PF apreenderam a pedra e solicitaram uma série de documentos, entre eles registros da origem exata da extração, dados de produção, imagens do material e identificação de todos que tiveram contato com a gema. Um parecer técnico sobre a compatibilidade geológica e a possível ligação com a empresa Carbono Mineração, que opera em Araguari, também foi requisitado.
O histórico da Diadel Mineração também levanta questionamentos. Fundada em 2004, tem como sócio-administrador Carlos César Manhas, de 63 anos, figura conhecida no setor e já condenado por receptação de diamantes da Reserva Indígena Roosevelt, em Rondônia. Em Coromandel, vizinhos afirmam que a empresa opera de forma intermitente e retomou as atividades pouco antes da descoberta da pedra.
A venda do diamante teria sido concluída rapidamente, sem ampla divulgação e por um valor considerado abaixo do esperado: entre R$ 16 milhões e R$ 18 milhões, segundo fontes do setor. Especialistas estimam que a gema poderia alcançar até R$ 50 milhões em leilões internacionais.
O sigilo e a forma como a negociação foi conduzida, sem consulta ao mercado e sem exposição, aumentam as suspeitas. A Diadel declarou o diamante oficialmente no Cadastro Nacional de Comércio de Diamantes (CNCD) em 29 de maio de 2025, e a certificação CPK seria concluída em agosto. No entanto, no momento do lacre final, o diamante foi retido pela ANM e PF.
A ANM afirma que o processo de certificação ainda está em andamento e não houve desistência formal, apesar do registro de cancelamento apresentado pela empresa em 27 de agosto.
A investigação também busca entender se houve tentativa de legitimar a origem da pedra alterando sua localização para Coromandel, onde a Diadel possui título de lavra legal, diferentemente de Araguari, que pode ter sido o local real da extração.
O maior diamante já encontrado no Brasil continua sendo o Presidente Vargas, descoberto em 1938 em Coromandel. Com 726,6 quilates, foi vendido no mesmo ano e, posteriormente, lapidado em 29 brilhantes. Um deles, com 48 quilates, pertence a uma joalheria de Nova York. O novo diamante retido em Minas é o segundo maior já registrado no país.