Política
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Indicação de evangélico ao STF reacende debate sobre religião na Corte

Possível nomeação de Jorge Messias pode mudar perfil religioso do Supremo, predominantemente católico, e reacende discussões sobre influência da fé nas decisões

02/11/2025 às 09:00 por Redação Plox

As discussões sobre a religião dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) voltaram ao centro do debate público diante da possibilidade de o tribunal ganhar um segundo ministro evangélico caso Jorge Messias, favorito do presidente Lula (PT), seja indicado para a vaga aberta. Apesar disso, o plenário da corte permanece, majoritariamente, composto por ministros católicos.

Alexandre de Moraes, integrante do Supremo Tribunal Federal

Alexandre de Moraes, integrante do Supremo Tribunal Federal

Foto: STF


Predomínio católico no STF

A maior parte dos dez ministros atuantes no STF atualmente se declara católica. O tribunal está com uma vaga disponível desde a saída de Luís Roberto Barroso. Questionados, Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Flávio Dino afirmaram serem católicos. Cristiano Zanin não respondeu, mas manifestou ser católico a políticos durante o processo de nomeação. Cármen Lúcia, que já declarou ser católica, também não se manifestou.

Kassio Nunes Marques definiu-se como cristão, com formação católica, e Luiz Fux declarou ser judeu. André Mendonça se apresenta publicamente como evangélico e mantém intensa atividade pastoral em São Paulo e Brasília, com registros frequentes dessa atuação em perfis de redes sociais. Entre os 35 posts no Instagram do ministro, 21 têm temática religiosa, incluindo vídeos, reflexões e versículos bíblicos.

Religião e decisões judiciais

Ministros costumam dissociar fé de decisões no tribunal, mas a influência da religião é questionada sempre que o tema volta à pauta. A presença de citações bíblicas em julgamentos mostra que, mesmo em processos sem relação direta com crenças, o debate religioso aparece de forma cada vez mais marcante.

A discussão foi intensificada quando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) assumiu o compromisso de indicar um ministro evangélico ao STF, nomeando Mendonça.

Posicionamentos públicos e divergências

Mendonça defende que, embora a fé guie seus valores pessoais, as decisões se baseiam na Constituição. Messias, cotado para a próxima indicação, é diácono da Igreja Batista e costuma comentar publicamente a influência bíblica sobre seus valores políticos.

Certos ministros associam manifestações religiosas à sua atuação. Flávio Dino, por exemplo, tem incluído referências bíblicas em votos e já protagonizou divergências com Mendonça sobre limites da fé nas decisões judiciais, como ocorreu em julgamento relacionado à destinação de valores de ações civis públicas trabalhistas.

A solução definitiva e total se chama Reino de Deus. Nós concordamos com isso – Flávio Dino

Na mesma sessão, Mendonça rebateu, dizendo que cabe ao tribunal resolver questões terrenas.

Trajetórias religiosas de ministros

O histórico religioso dos ministros é variado. Fux, que se reconhece como judeu, passou a ser o único ministro a representar essa crença religiosa na corte após a saída de Barroso. Durante sua trajetória, Fux sofreu ataques antissemitas após votação em julgamentos polêmicos e chegou a ser homenageado pela embaixada israelense pela sua contribuição à comunidade judaica no Brasil.

Kassio Nunes Marques declarou formação católica, mas expressou admiração por doutrinas evangélicas e kardecistas. Já Alexandre de Moraes, em 2019, classificou sua crença como uma “religião do amor”, pautada pelo ensinamento de Jesus sobre o amor ao próximo.

Religião em debates judiciais

O STF tem enfrentado temas diretamente relacionados à fé, como a manutenção de símbolos religiosos em prédios públicos, decisão fundamentada na compreensão de que o cristianismo integra a formação cultural brasileira. Em outro caso, Cármen Lúcia e Mendonça divergiram sobre preconceito religioso, com Cármen ressaltando que as religiões de matriz africana são as mais atingidas.

A ministra tem atuação destacada em pautas de minorias e afirmou em 2020 que “o Estado separa-se da religião, mas o ser humano não se separa da fé” ao defender direitos vinculados a crenças.

Em composições anteriores, ministros como Celso de Mello e Rosa Weber optaram pela discrição acerca de suas crenças. Rosa Weber destacou, em julgamento sobre ensino religioso em escolas públicas, que questões de fé pertencem à esfera privada.

Apesar do predomínio católico, o STF abriga diferentes visões religiosas, o que contribui para a complexidade do debate sobre a relação entre fé e justiça no país.

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