Pitbull mata cãozinho em Minas Gerais e caso reacende debate sobre responsabilidade de tutores
Ataques de cães de grande porte aumentam, gerando alertas sobre a necessidade de maior supervisão e punições mais rígidas para tutores negligentes
Por Plox
02/12/2024 08h11 - Atualizado há 9 dias
O trágico ataque que tirou a vida de Espirro, um shih tzu de cinco anos, marcou a vida da família Ribeiro, em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte. No dia 23 de novembro, o cãozinho estava acompanhando Artur, de 10 anos, durante uma brincadeira de futebol na rua, quando um pitbull desacompanhado apareceu. Apesar das tentativas de Artur de proteger Espirro, o shih tzu foi atacado violentamente e morreu.
"Ele cresceu com a minha filha Isadora, que é autista. A perda é devastadora", lamentou Valter Ribeiro, tutor do animal. A família optou por não contar à menina sobre a morte de Espirro, temendo sua reação.
Crescimento nos ataques de cães
O caso evidencia um problema crescente. Dados da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) apontam que os atendimentos por ataques de cães no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII aumentaram 30% entre 2022 e 2023. Este ano, até outubro, já foram registrados 2.587 casos, quase superando o total de 2023.
Aliene Ornelas, defensora da causa animal, destaca que o problema não está nos cães, mas na irresponsabilidade dos tutores. “O cachorro é o espelho do dono”, afirmou, alertando que o abandono de cães de grande porte, como pitbulls, tem se tornado cada vez mais comum.
Legislação busca punições mais rígidas
Em resposta a esse cenário, tramita na Assembleia Legislativa de Minas Gerais o Projeto de Lei 1263/2023, que visa endurecer as regras para tutores. A proposta prevê multas para casos de ataques, além da obrigatoriedade do uso de focinheira e coleira com identificação nos cães em locais públicos. Somente maiores de 18 anos poderão conduzir esses animais.
“A proposta inicialmente permitia que maiores de 16 anos fossem responsáveis, mas optamos por alterar para evitar a transferência de responsabilidades inadequadas”, explicou o deputado Sargento Rodrigues (PL), relator do projeto.
Sequelas e orientações médicas
Ataques de cães podem deixar marcas permanentes, conforme explica o cirurgião-geral Tarcísio Versiani, do Hospital João XXIII. “Algumas sequelas são temporárias, mas muitas são definitivas. As mais comuns ocorrem nas mãos, podendo afetar a mobilidade.” O rosto é outra região frequentemente afetada, exigindo procedimentos estéticos de reconstrução.
Versiani orienta que, em caso de mordida, a área deve ser imediatamente lavada com água e sabão, evitando o uso de substâncias como pó de café. Além disso, é crucial procurar atendimento médico para vacinação contra raiva, se necessário.
Abandono e maus-tratos: um problema persistente
A Lei Sansão, em vigor desde 2020, classifica o abandono e os maus-tratos a animais como crimes, prevendo pena de dois a cinco anos de prisão. Apesar disso, casos de abandono continuam crescendo, especialmente envolvendo cães de grande porte.
“Esses animais muitas vezes são abandonados porque se tornam agressivos ou adoecem. É um problema sério que reforça a importância da posse responsável”, afirmou Roberta Cabral, superintendente da Sepa em Betim.
Em Belo Horizonte, o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) recolhe cães e gatos abandonados nas ruas. Este ano, já foram realizadas 17 solicitações de recolhimento de pitbulls e outros cães de grande porte.
Família busca justiça
Valter Ribeiro registrou um boletim de ocorrência, mas lamenta a falta de punição ao tutor do pitbull, um policial federal aposentado. “Esse não foi o primeiro ataque desse animal, mas nada acontece”, desabafou. A Polícia Civil investiga o caso.