Lula ameaça taxar produtos dos EUA após tarifa de Trump contra exportações brasileiras

Governo brasileiro critica medida de Trump que impõe tarifa de 10% a todos os produtos do Brasil e avalia retaliação com base na nova lei de reciprocidade

Por Plox

03/04/2025 07h27 - Atualizado há 2 meses

A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa adicional de 10% a todos os produtos exportados do Brasil para o mercado norte-americano provocou forte reação por parte do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Em nota oficial divulgada nesta quarta-feira (2), o governo brasileiro lamentou a medida e afirmou que a taxação fere os compromissos internacionais dos EUA junto à Organização Mundial do Comércio (OMC).


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A medida anunciada por Trump afeta diretamente o comércio bilateral e compromete toda a pauta de exportações brasileiras de bens. O governo brasileiro destacou que, ao longo dos últimos 15 anos, os Estados Unidos mantiveram um expressivo superávit comercial com o Brasil, que somou US$ 410 bilhões. Em 2024, somente em bens, o superávit norte-americano foi de US$ 7 bilhões, saltando para US$ 28,6 bilhões quando considerados também os serviços.



Apesar da abertura para o diálogo com Washington, Brasília afirmou que avalia todas as alternativas possíveis, incluindo levar o caso à OMC, para garantir a reciprocidade nas relações comerciais. O governo ainda ressaltou que está em contato com o setor privado para buscar medidas de proteção aos interesses dos produtores e trabalhadores brasileiros.


Em paralelo à reação diplomática, o governo comemorou a recente aprovação, pelo Senado Federal, do Projeto de Lei da Reciprocidade Econômica, que está em tramitação na Câmara dos Deputados. Essa legislação permitirá que o Brasil aplique sanções comerciais contra países que adotem políticas que prejudiquem a competitividade de seus produtos no exterior.



O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já havia se manifestado no dia anterior, afirmando que seria “estranho” uma retaliação contra o Brasil, dado o histórico de negociações e parcerias. Segundo ele, o país sempre esteve à disposição para o diálogo com os EUA, inclusive no âmbito de serviços e bens, onde os norte-americanos têm vantagens.


Também o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, se posicionou contra a decisão de Trump. Ele lembrou que os Estados Unidos têm um superávit significativo com o Brasil, com cerca de US$ 18 bilhões em serviços e US$ 7 bilhões em bens, além de aproximadamente 4 mil empresas americanas em território brasileiro.


Alckmin classificou a medida como um “equívoco” e reiterou que o Brasil deveria ficar fora do tarifaço, devido à longa parceria entre os países. Em março, ele já havia destacado que a relação comercial é equilibrada e defendeu que a resposta brasileira não deveria ser baseada em retaliações diretas, mas sim em um modelo de comércio que beneficie ambos os lados.



O presidente Lula, por sua vez, indicou que o governo está disposto a adotar medidas mais firmes caso o recurso à OMC não surta efeito. Durante uma entrevista coletiva no Japão, Lula afirmou que, se for necessário, o Brasil aplicará tarifas sobre produtos americanos em resposta. \"Se não tiver resultado, a gente vai utilizar os instrumentos que nós temos, que é a reciprocidade e taxar os produtos americanos\", afirmou o presidente.


A situação tensiona ainda mais a relação entre os dois países e coloca em xeque a estabilidade do comércio bilateral, que até então vinha sendo conduzido sob uma lógica de cooperação e equilíbrio econômico. Agora, com a nova política de Trump, o Brasil se vê diante do desafio de proteger seus interesses sem fechar as portas para o diálogo internacional.



A nota oficial do governo brasileiro conclui reforçando seu apoio ao sistema multilateral de comércio e reafirmando o compromisso com a defesa dos interesses nacionais, em especial diante de medidas unilaterais que possam afetar a economia brasileira.


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