Filha de jovem que morreu em viatura da PM em Governador Valadares receberá pensão do governo de MG
Após seis meses da morte de Thainara Santos durante abordagem policial, governo mineiro recua e concede pensão à criança
Por Plox
03/06/2025 07h09 - Atualizado há 3 dias
Seis meses após a trágica morte de Thainara Vitória Francisco Santos, de 18 anos, durante uma abordagem policial em Governador Valadares, o Estado de Minas Gerais finalmente deu a primeira resposta concreta à sua família.

A jovem morreu em 14 de novembro de 2024, após ser detida por militares da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) no Residencial Ibituruna II, localizado no Bairro Vila dos Montes, quando tentava proteger seu irmão com deficiência mental durante uma operação policial. Na ocasião, a força empregada pelos policiais foi registrada por vizinhos e mostrou Thainara sendo contida ao lado do irmão, enquanto os moradores gritavam:
\"o menino é doente da cabeça\" e \"não é envolvido com o crime\"
.
Segundo a versão da corporação, a ação teria como objetivo capturar um suspeito de homicídio que estaria no condomínio. Durante a tentativa de prisão, os militares afirmaram ter sido agredidos e alegaram que foi necessário conter os envolvidos. Um dos policiais chega a afirmar nas imagens:
\"É só ele parar de resistir\"
. Após ser presa, Thainara passou mal e foi levada à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Vila Isa, mas chegou lá inconsciente e não resistiu. O óbito foi constatado ainda na entrada do hospital.
A jovem era pilar da casa: sustentava a filha de quatro anos, cuidava do irmão e da mãe que depende de hemodiálise. Inicialmente chegou a circular a informação de que ela estaria grávida, porém o laudo necroscópico descartou a gestação. A causa da morte foi apontada como asfixia por constrição extrínseca do pescoço.
Durante uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), realizada na última sexta-feira (30/5), veio a confirmação: o governo de Minas pagará uma pensão de um salário mínimo à filha de Thainara, hoje com cinco anos. A Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag) informou que os pagamentos serão realizados entre os dias 6 e 11 de junho.
A decisão foi anunciada após a Advocacia-Geral do Estado (AGE-MG) recuar e desistir de um recurso contra decisão de primeira instância do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Para os representantes legais da família, o recuo do Estado ocorreu somente por causa da audiência marcada na ALMG. A deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT) criticou a conduta da AGE-MG, afirmando que o Estado apenas desistiu do processo no dia anterior à audiência.
Paralelamente ao anúncio da pensão, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) finalizou o inquérito que apurava as circunstâncias da morte. O relatório, assinado pelo delegado Cleriston Lopes de Amorim, da Delegacia de Crimes Contra a Vida de Governador Valadares, concluiu que Thainara foi vítima de homicídio culposo, atribuindo também a qualificadora de omissão de socorro.
O inquérito ainda revelou que houve fraude processual: o corpo da jovem teria sido movido da viatura antes da perícia e o local original da morte não foi preservado. Apesar das evidências, nenhum policial foi nominalmente responsabilizado. O delegado apontou os envolvidos apenas como \"os militares\".
Para o advogado da família, Márcio Santos, o resultado do inquérito é decepcionante, pois ignora os hematomas presentes no corpo da jovem e o laudo que indica asfixia como causa da morte.
\"Ninguém asfixia com um mata leão sem intenção de matar\"
, disse o advogado, criticando o enquadramento como homicídio culposo. Ele afirmou ainda que o caso será encaminhado à Justiça Militar, o que, segundo ele, representa mais uma barreira para se alcançar justiça.
Agora, com a pensão aprovada, a família de Thainara tem uma pequena vitória. Mas, diante da ausência de responsabilização direta e do encaminhamento do caso à esfera militar, continuam buscando justiça por sua morte.