Milei ataca Mercosul e Lula defende papel estratégico do bloco
Durante cúpula em Buenos Aires, presidentes de Argentina e Brasil expõem visões opostas sobre futuro do Mercosul
Por Plox
03/07/2025 14h13 - Atualizado há cerca de 16 horas
Durante a abertura da cúpula do Mercosul realizada nesta quinta-feira (3), em Buenos Aires, ficou evidente o contraste entre os posicionamentos do presidente argentino Javier Milei e o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva sobre o papel do bloco econômico.

Milei, anfitrião do evento, foi direto ao criticar o Mercosul. Para ele, o grupo que une Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, ao longo de mais de 30 anos, serviu mais para restringir do que ampliar as liberdades econômicas. Ele defendeu uma nova abordagem, propondo que o bloco funcione como uma “lança” voltada à abertura comercial, e não como um “escudo” que, segundo suas palavras, tem limitado o acesso dos países-membros aos mercados internacionais por meio de barreiras tarifárias.
Apesar das críticas, Milei frisou que as divergências “em questões acessórias” não deveriam ser motivo de separação entre os países do bloco.
Lula, por sua vez, abordou o mesmo tema, mas com tom oposto. Em sua fala, o presidente brasileiro destacou o valor do Mercosul como uma estrutura de proteção para os países envolvidos.
“Estar no Mercosul nos protege. Nossa tarifa externa comum nos blinda de guerras comerciais alheias”
, declarou.
Ele também reforçou que a presidência temporária brasileira do bloco, que se inicia neste semestre, terá como foco central a conclusão do acordo de livre comércio com a União Europeia — uma negociação travada pela resistência de setores agrícolas europeus — e com a Associação Europeia de Comércio Livre (EFTA). “Estou confiante de que até o fim deste ano, assinaremos os acordos”, afirmou Lula.
O presidente brasileiro aproveitou para enfatizar a importância de ampliar os laços comerciais com o continente asiático, citando Japão, China, Coreia do Sul, Índia, Vietnã e Indonésia como alvos prioritários de aproximação. Ele também falou sobre medidas voltadas a apoiar pequenas e médias empresas, combater o crime organizado transnacional e fortalecer mecanismos de pagamento em moedas locais. Entre as ações anunciadas, Lula destacou ainda a realização de uma cúpula sindical do Mercosul.
Após o fim da cúpula, Lula planeja visitar a ex-presidente argentina Cristina Kirchner, que cumpre prisão domiciliar após condenação por corrupção. O encontro, autorizado pela Justiça da Argentina, gera desconforto diplomático, já que Cristina é uma das maiores adversárias políticas de Milei.
Cristina, que foi sentenciada a seis anos de prisão e perdeu os direitos políticos de forma permanente, nega as acusações e é tratada por Lula e pelo PT como vítima de perseguição política. O gesto do presidente brasileiro de visitá-la vai contra recomendações de seus assessores, que temem repercussões negativas, especialmente por ocorrer no mesmo momento em que o Brasil assume a presidência temporária do bloco.