Ouro Preto: Cartazes evocando a venda de escravos revoltam comunidade local
Depois de 135 anos da abolição do trabalho escravo, mensagens provocam repulsa em quem ainda sente as dores do período
Por Plox
03/08/2023 13h58 - Atualizado há quase 2 anos
No coração de Minas Gerais, a histórica cidade de Ouro Preto tem sido palco de um perturbador fenômeno. Cartazes que simulam a venda de escravos, reminiscentes de um passado cruel e opressivo, surgiram em vários pontos da cidade, causando revolta entre os moradores. As mensagens contêm descrições inquietantes que, deliberadamente ou não, trazem à tona as feridas ainda abertas da escravidão, mais de um século após sua abolição.

Memórias Incomodas em Cartazes
Cartazes ilustrando a venda de uma mulher negra como escrava foram presenciados em vários pontos de Ouro Preto, inclusive na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Os anúncios fazem referência direta às práticas de venda de seres humanos do século XVI, fazendo com que os moradores locais revivessem a brutalidade e a violência desse período.
Cada cartaz traz uma inscrição desagradável que sugere a venda de uma "preta, muito moça, com cria [filhos], sabendo lavar perfeitamente e bem desembaraçada para o serviço doméstico". A inscrição termina dizendo que a mulher está à venda por "não querer mais servir aos seus antigos senhores".
Impacto Comunitário e Reações
Para Eleciania Tavares, geógrafa de 40 anos, o sentimento de ver as mensagens é de grande angústia. Em suas palavras, "Enquanto mulher negra, voltei ao século XVI. Até me emociono. A gente volta ao período escravocrata. Nossos corpos ainda são muito violentados, das mais diversas formas. Essa apresentação da mulher despida, como ama de leite, é muito impactante e nos faz vivenciar várias situações”.
A professora Lívia, de 28 anos, compartilhou sentimentos semelhantes de descrença e revolta, expressando seu choque ao interpretar o verdadeiro significado dos cartazes. Ela disse: “Quando me mostraram os cartazes, demorei um pouco para compreender, de fato, do que se tratava. Fiquei bastante assustada. A sensação é de revolta. Trata-se da desumanização da mulher negra. Os cartazes retratam a mulher como uma “coisa”. Eu não consigo sequer ler tudo que foi escrito ali”.
Posição Oficial da UFOP e da Prefeitura
Em resposta ao incidente, a Universidade Federal de Ouro Preto divulgou uma nota informando que os cartazes fazem parte de um trabalho artístico realizado por pesquisadores da instituição. Já a Prefeitura de Ouro Preto, quando contatada sobre o assunto, optou por não se pronunciar.