Brasileiros temem impacto de tarifaço nos EUA e custo de vida dispara

Imigrantes relatam dificuldades crescentes diante da alta de preços e instabilidade econômica provocada por medidas protecionistas do governo Trump

Por Plox

03/08/2025 10h28 - Atualizado há 1 dia

Nas ruas e supermercados de diversas cidades americanas, brasileiros estão enfrentando uma nova onda de apreensão. A recente política de tarifas comerciais adotada pelo governo de Donald Trump tem causado um aumento perceptível no custo de vida, especialmente entre os mais de 2 milhões de imigrantes brasileiros que vivem nos Estados Unidos.


Imagem Foto: Pixabay


Gustavo Guimarães, morador de Cedar Grove, em Nova Jersey, expressa o sentimento de muitos ao declarar:
“A gente teme, sim, pelo futuro, não vou dizer para você que não, porque é uma situação complicada. Eu tenho dois filhos, família para sustentar, então não é uma situação que você fica tranquilo, porque tem uma incerteza do futuro diante de um presidente polêmico”

. Há quase duas décadas no país, ele observa com preocupação os desdobramentos da nova medida econômica que passará a vigorar na próxima quinta-feira.


O Brasil figura entre os países mais atingidos, com uma tarifa de 50%, a maior entre mais de 65 nações incluídas no pacote. A Casa Branca defende a estratégia como uma tentativa de revitalizar a indústria local e impulsionar a geração de empregos. Contudo, enquanto os resultados prometidos não se concretizam, o clima é de tensão, especialmente entre comunidades imigrantes.


Luciane Tavares, advogada de imigração e CEO da VisaLex, mora há 25 anos em Orlando e afirma que a nova política tem prejudicado diretamente a rotina das famílias. “O efeito imediato tem sido o aumento de preços e a pressão sobre o custo de vida, algo que afeta diretamente a população em geral”, analisa. Para ela, o impacto não é apenas financeiro: “Vejo diariamente o impacto que essas políticas têm sobre a comunidade imigrante, tanto no aspecto financeiro quanto emocional.”



Os reflexos da tensão econômica também foram abordados pelo Federal Reserve (Fed), que optou recentemente por manter a taxa de juros entre 4,25% e 4,50%, contrariando os anseios da Casa Branca por uma redução. A autoridade monetária justificou a decisão com base na inflação ainda acima da meta, atualmente em 2,7%, e na incerteza dos efeitos do tarifaço.


No cotidiano, os brasileiros já sentem os efeitos. Giancarlo Almeida, fotógrafo e funcionário de uma empresa de telecomunicações, relata as dificuldades enfrentadas em Nova Jersey. “As tarifas já impactaram diretamente a minha vida, seja no cotidiano como o preço da carne, que tem subido cada dia mais”, diz ele, que calcula um aumento de 15% nos preços do produto. Além disso, ele tem enfrentado obstáculos para adquirir equipamentos profissionais: “Estou tentando atualizar meus equipamentos fotográficos, preciso de um drone para uma demanda específica e já não se pode encontrar em lugar nenhum.”



Segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA, os preços da carne bovina já subiram mais de 9% desde janeiro, antes mesmo das tarifas entrarem em vigor. Outros setores, como o de eletrônicos, também sentem os efeitos do protecionismo, dificultando ainda mais o dia a dia dos imigrantes.


Do ponto de vista técnico, os especialistas alertam para possíveis desdobramentos negativos. Caique Stein Laguna, sócio da Blue3 Investimentos, argumenta que o impacto real das tarifas ainda não foi totalmente absorvido pela economia americana, o que explica a postura conservadora do Fed. “Qualquer impacto negativo na inflação, havendo um corte de juros um pouco mais cedo, pode acabar gerando uma margem negativa e o Fed ter que manter ou subir novamente os juros”, pontua.


Adriano Gianturco, coordenador do curso de Relações Internacionais do Ibmec, é categórico ao afirmar: “Do ponto de vista econômico, não há pontos positivos no protecionismo”. Ele prevê não apenas uma elevação geral de preços e redução na variedade de produtos, como também uma queda no Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos. Para ele, a medida busca reposicionar os EUA geopoliticamente e enfraquecer a influência da China.



Enquanto isso, brasileiros como Giancarlo sentem cada vez mais distante o chamado 'sonho americano'. Ele afirma que a realidade atual se resume a trabalhar em dois ou três empregos para manter o sustento. Apesar das dificuldades, descarta voltar ao Brasil por enquanto, mas critica severamente as políticas atuais: “Na minha opinião, o tarifaço é uma política falha que não atende às necessidades da população norte-americana, cria tensão nas relações diplomáticas e já está trazendo prejuízos para a economia, elevando o custo de vida, diminuindo o fluxo de pessoas nos comércios.”


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