A redução no número de filhos por mulher no Brasil, confirmada pelos recentes dados do IBGE, reflete uma mudança significativa no padrão familiar brasileiro, trazendo à tona desafios específicos para pais de filhos únicos.
Tendência nacional e cenário de Roraima
O estudo do IBGE de agosto de 2024 revela que Roraima é o único estado brasileiro onde as mulheres em idade reprodutiva ainda têm, em média, dois filhos. No restante do país, a tendência é clara: o número de filhos por mulher está em queda, uma mudança que coloca o país abaixo da taxa de reposição populacional. Esse cenário aponta para um crescimento das famílias com filhos únicos, um fenômeno que traz implicações importantes para o desenvolvimento social e emocional dessas crianças.
Desafios e benefícios do filho único, segundo psicóloga
A psicóloga Ana Luísa Bolívar, especialista em crianças e adolescentes, destaca que criar um filho único oferece tanto benefícios quanto desafios. Um dos principais benefícios é a atenção exclusiva que a criança recebe dos pais, o que pode fortalecer a relação familiar e contribuir para o desenvolvimento de uma autoestima saudável. "O filho único se beneficia da atenção exclusiva dos pais e tem a possibilidade de construir uma relação mais sólida e estreita com eles, o que pode favorecer sua autonomia e independência", analisa Bolívar.
No entanto, ela também aponta desafios, como dificuldades em compartilhar e interagir socialmente, que podem surgir em ambientes onde a criança precisa se relacionar com seus pares. “Tudo vai depender de como a família irá criar esse filho. Não existe fórmula mágica nem receita pronta”, afirma. A psicóloga ressalta que a criação de um filho único demanda atenção especial às oportunidades de socialização, uma vez que a ausência de irmãos pode limitar as interações cotidianas que ajudam na construção dessas habilidades.
Estratégias de convivência e importância do diálogo
Para mitigar os desafios, a especialista sugere estratégias de convivência em grupo, como a participação em esportes coletivos, atividades extracurriculares e outras formas de interação social. Essas atividades são fundamentais para que a criança desenvolva habilidades sociais e emocionais essenciais. "No mundo ideal, toda criança, sendo filho único ou não, deveria ter o direito de possuir as melhores possibilidades para o seu desenvolvimento emocional e social", pontua Bolívar.
Além das atividades em grupo, a psicóloga enfatiza a importância de um ambiente familiar propício ao diálogo. A abertura para conversas e trocas de experiências é vista como crucial para o desenvolvimento de confiança e habilidades sociais. "Trocas e ensinamentos são fundamentais para que essa criança ou adolescente possa confiar em si, nos outros, e aprenda a desenvolver essas habilidades sociais", afirma.
Sinais de alerta e atenção aos comportamentos
Embora muitas questões se apliquem tanto a filhos únicos quanto a crianças com irmãos, Bolívar alerta para sinais específicos que podem indicar problemas, como vergonha excessiva, insegurança, medos exagerados, egoísmo ou baixa tolerância à frustração. Estes comportamentos podem ser prejudiciais ao desenvolvimento social da criança, exigindo atenção dos pais.
Para lidar com essas questões, a convivência com outras crianças é vital. A psicóloga destaca que a interação em ambientes como a escola, em atividades extracurriculares, ou mesmo em espaços comunitários, é essencial para que a criança aprenda a lidar com diferentes situações e desenvolva suas habilidades sociais. "Essa troca é fundamental para que se aprendam não só habilidades, mas também as regras de convivência", reforça.
Filhos de pais separados e o papel do ambiente familiar
A situação de filhos únicos em lares de pais separados também merece atenção especial. Ana Luísa Bolívar afirma que, nesses casos, é crucial que os pais superem suas diferenças para criar um ambiente harmonioso para a criança. "Esse ambiente deveria ser o mais harmonioso possível para que nenhuma criança tivesse seu desenvolvimento prejudicado", diz ela. Atividades que promovem o bem-estar emocional, como esportes coletivos e grupos de habilidades emocionais, são recomendadas como recursos importantes para essas crianças.
Diante dessa nova configuração familiar, o papel dos pais e da comunidade em torno da criança torna-se ainda mais relevante. A criação de um ambiente que favoreça o diálogo, o desenvolvimento social e emocional é essencial para que o filho único possa crescer com equilíbrio e preparo para os desafios da vida adulta.