Em depoimento no Senado, ex-assessor acusa Moraes de fraude processual
Eduardo Tagliaferro afirmou que ministro do STF teria ordenado relatório com data retroativa para justificar ação da PF contra empresários investigados
Por Plox
03/09/2025 15h10 - Atualizado há 6 dias
Durante audiência realizada na Comissão de Segurança Pública do Senado, nesta terça-feira (2), o ex-assessor Eduardo Tagliaferro acusou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de ter cometido uma \"fraude processual gravíssima\" no caso dos empresários investigados por supostamente apoiarem um golpe de Estado.

Segundo Tagliaferro, que ocupava o cargo de chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Moraes teria solicitado a produção de um relatório com data retroativa, com o objetivo de justificar a operação da Polícia Federal realizada contra os empresários em 23 de agosto de 2022. A operação foi deflagrada poucos dias após a publicação de uma reportagem do portal Metrópoles, que revelou conversas nas quais os empresários manifestavam apoio a um possível golpe, caso o então presidente Jair Bolsonaro (PL) perdesse a eleição para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Tagliaferro relatou que, devido à repercussão negativa da operação, houve uma ordem para construir um relato que justificasse a ação. Ainda conforme o ex-assessor, o juiz instrutor Airton Vieira — assessor direto de Moraes no STF — o procurou nos dias 26 e 27 de agosto para criar mapas mentais e relatórios com data de 22 de agosto, anterior à operação.
“Se esse processo chegou às minhas mãos por um ato de extrema confiança do Airton, imagina quantos outros não chegaram. Imagina o nível de manipulação existente”, afirmou Tagliaferro durante seu depoimento.
O ex-assessor reforçou que os documentos teriam sido manipulados para parecerem anteriores à ação da Polícia Federal. Ele ainda destacou que essa não teria sido uma prática isolada dentro do gabinete do ministro, levantando dúvidas sobre a integridade de outras investigações conduzidas sob sigilo.
Em resposta às declarações, o gabinete de Alexandre de Moraes divulgou nota oficial negando qualquer irregularidade. O texto afirma que, no curso dos inquéritos relacionados às fake news e milícias digitais, diversos relatórios foram produzidos por órgãos competentes, inclusive pelo TSE, com base em postagens consideradas ilícitas.
Todos os procedimentos, segundo a nota, ocorreram de maneira oficial e regular, com participação da Procuradoria Geral da República (PGR). A documentação teria sido devidamente juntada aos inquéritos e encaminhada à Polícia Federal, como parte das diligências autorizadas pelo STF.
A controvérsia acirra o debate sobre os limites da atuação do Judiciário em investigações de caráter político e sobre a condução dos processos relacionados à tentativa de desestabilização democrática no Brasil.