Ex-assessor do TSE acusa Moraes e vira alvo de denúncia da PGR
Eduardo Tagliaferro, apontado no caso 'Vaza Toga', afirmou que ministro ordenou consultas e obtenção de gravações; ele responde a processo e é alvo de extradição
Por Plox
03/09/2025 19h37 - Atualizado há 9 dias
O ex-chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Eduardo Tagliaferro, participou por videoconferência de uma audiência na Comissão de Segurança Pública do Senado nesta terça-feira (2/9). O depoimento, convocado pelo senador Flávio Bolsonaro, ocorreu ao mesmo tempo em que o Supremo Tribunal Federal (STF) dava início ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete réus acusados de tentativa de golpe após as eleições de 2022.

Durante sua fala, Tagliaferro declarou que o TSE exerceu um “poder de polícia” sob orientação do ministro Alexandre de Moraes. Segundo ele, o magistrado teria determinado à Polícia Federal a coleta de gravações e ordenado consultas a dados internos do tribunal. As revelações foram usadas por parlamentares da oposição como contraponto ao processo que tramita no STF.
Nas redes sociais, o nome do ex-assessor rapidamente se tornou um dos temas mais comentados. Flávio Bolsonaro classificou as acusações como \"gravíssimas\" e afirmou que
as revelações mostram como o ministro agiu para beneficiar um lado e perseguir Bolsonaro de maneira ilegal
.
O senador Esperidião Amin destacou supostos “abusos autoritários” e disse já ter reunido as 27 assinaturas necessárias para propor uma CPI. Já a ex-ministra Damares Alves defendeu a interrupção imediata do julgamento no Supremo, chamando o episódio de “grande violação de direitos humanos”. Nenhum integrante governista compareceu à sessão, mas senadores petistas Augusta Brito e Paulo Paim estiveram presentes, mesmo sem integrar oficialmente a comissão.
A trajetória de Tagliaferro está ligada ao caso “Vaza Toga”, que ganhou repercussão em 2024, quando mensagens extraídas de seu celular foram divulgadas pela imprensa. Os diálogos, trocados entre agosto de 2022 e maio de 2023, revelaram contatos entre ele e servidores do STF e do TSE. O material indicava que Alexandre de Moraes teria solicitado relatórios informais sobre investigados ligados a inquéritos das fake news e das milícias digitais. Em resposta, o gabinete do ministro afirmou que todos os atos foram oficiais, documentados e acompanhados pela Procuradoria-Geral da República.
Moraes também se defendeu publicamente, ressaltando que, como presidente do TSE, possuía poder de polícia para requisitar relatórios e que todas as determinações estavam devidamente registradas nos processos em andamento.
O ex-assessor deixou o cargo em maio de 2023, após ser preso por violência doméstica contra a esposa. Além disso, passou a ser investigado pela PGR por crimes como violação de sigilo funcional e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, acusações que podem resultar em até 22 anos de prisão. Diante das investigações, Tagliaferro viajou para a Itália, e o Ministério das Relações Exteriores pediu oficialmente sua extradição.
Na denúncia, o procurador-geral Paulo Gonet sustentou que ele agiu de forma “livre, consciente e voluntária” para atender a interesses de uma organização criminosa responsável por espalhar desinformação contra o sistema eleitoral e contra ministros do STF e TSE, além de apoiar tentativas de golpe de Estado.
O episódio reacendeu embates entre Judiciário e oposição, reforçando a polarização política em torno das ações de Alexandre de Moraes e do papel de Eduardo Tagliaferro nos bastidores da Justiça Eleitoral.