Programa russo divulgado por influenciadoras levanta suspeitas de tráfico humano
Influenciadoras brasileiras promoveram proposta de intercâmbio que, segundo investigações, pode estar ligada à produção militar russa e ao aliciamento de jovens
Por Plox
03/10/2025 13h07 - Atualizado há cerca de 4 horas
Três influenciadoras digitais brasileiras, MC Thammy, Catherine Bascoy e Aila Loures, tornaram-se alvo de polêmica internacional após divulgarem em suas redes sociais o programa russo 'Alabuga Start'. A proposta, que inicialmente parecia ser uma oportunidade de intercâmbio com salário atrativo, está sendo investigada por possíveis ligações com tráfico humano e recrutamento forçado para produção militar na Rússia.

As publicidades promovidas por essas influenciadoras ofereciam vagas destinadas a mulheres entre 18 e 22 anos, prometendo benefícios como transporte, hospedagem, aulas de idioma russo, seguro médico e regularização migratória. O salário divulgado era de até US$ 680 por mês, algo em torno de R$ 3.643,37.
O caso ganhou repercussão quando o influenciador Guga Figueiredo expôs, em um vídeo, a ausência de CNPJ, telefone e qualquer tipo de regulamentação da empresa no Brasil. Após isso, vieram à tona os vínculos do programa com a Zona Econômica Especial de Alabuga, localizada na República do Tartaristão, onde operam fábricas envolvidas na produção de drones utilizados pelo exército russo.
Apesar de inicialmente divulgado como um projeto profissionalizante nas áreas de logística, alimentação, hospitalidade e produção, investigações revelam que o verdadeiro destino das jovens recrutadas seria a linha de montagem de armamentos. Essas denúncias foram reforçadas por reportagens como a publicada pela Associated Press em 2024, que revelou o recrutamento de cerca de 200 mulheres africanas, levadas à Rússia sob falsas promessas de trabalho qualificado. Os relatos envolvem vítimas vindas de Uganda, Ruanda, Sudão do Sul, Quênia, Nigéria, Serra Leoa e também do Sri Lanka.
\"Devolvi e ativei a equipe jurídica para cuidar do caso e estamos acompanhando tudo de perto\", afirmou MC Thammy, destacando que jamais apoiaria algo que pudesse prejudicar outras pessoas
. Catherine Bascoy, por sua vez, declarou que sua participação foi estritamente comercial, baseada nas informações contratuais. Já Aila Loures afirmou que o conteúdo passou por análise jurídica antes da publicação e que havia confirmação da existência da empresa na Rússia.
Além delas, as influenciadoras Raphaela Nogueira e Isabella Duarte também participaram da campanha publicitária e posteriormente se retrataram publicamente.
O relatório mais recente da Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional, divulgado em maio de 2025, aponta que os primeiros alertas sobre o programa surgiram em mídias russas independentes ainda em 2023. A entidade afirmou que a operação cumpre critérios típicos de tráfico humano, com jornadas exaustivas, exposição a substâncias químicas nocivas e um ambiente de trabalho punitivo.
Em paralelo, um relatório do Departamento de Estado dos EUA, publicado em 2024, identificou inclusive o uso de trabalho infantil na construção de drones na mesma região. A Human Rights Watch, por sua vez, destaca que essa prática se alinha a outras estratégias adotadas pelo governo russo para atrair mão de obra estrangeira sem informar adequadamente sobre os riscos envolvidos.
Até o momento, o Brasil ainda não anunciou nenhuma investigação formal contra a empresa russa ou as influenciadoras que divulgaram o programa. Porém, a Interpol já iniciou averiguações em Botsuana por suspeitas semelhantes envolvendo o Alabuga Start.
Enquanto isso, cresce o alerta internacional sobre esse tipo de aliciamento disfarçado de oportunidade profissional, que pode transformar sonhos de uma vida melhor em realidades marcadas pela exploração.