Comando Vermelho amplia domínio no litoral de São Paulo com tráfico e grilagem

A facção do Rio de Janeiro expande atuação em Ubatuba, explorando tráfico local e terras, enquanto PCC foca em operações internacionais

Por Plox

03/11/2024 10h42 - Atualizado há 8 meses

O Comando Vermelho (CV), originário do Rio de Janeiro, tem fortalecido sua presença no litoral norte de São Paulo, em especial na cidade de Ubatuba, com práticas de tráfico e grilagem de terras. A facção atua sem confronto direto com o Primeiro Comando da Capital (PCC), que historicamente dominava o território. Segundo autoridades do Ministério Público de São Paulo e das polícias estaduais, o avanço ocorre de forma discreta e gradual, preenchendo lacunas deixadas pelo PCC, que agora parece concentrar seus esforços em operações internacionais.

O promotor Alexandre Affonso Castilho, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Vale do Paraíba, explica que a estratégia do CV em Ubatuba ocorre de maneira “sorrateira” e “paulatina”, sem sinais de resistência do PCC. Castilho comenta que a falta de interesse do PCC em controlar o tráfico regional aumentou a vulnerabilidade dos traficantes locais, que agora têm apoio do CV. “Parece que o PCC realmente perdeu o interesse no tráfico regional. Então, o tráfico regional é explorado basicamente pelos traficantes locais, que ficam vulneráveis ao CV”, disse o promotor.

Prefeitura Municipal de Ubatuba/Flickr

Desarticulação do PCC no mercado local

A Polícia Militar de São Paulo confirma a perda de influência do PCC na região. De acordo com setores de inteligência da corporação, o PCC, além de aparentar desinteresse pelo comércio local de drogas, encontra-se “desarticulado”, reduzindo sua capacidade de controle na área. O subsecretário de Inteligência da Polícia Militar fluminense, coronel Uirá Ferreira, destaca a similaridade geográfica de Ubatuba com a costa do sul do Rio, o que facilita a adaptação do CV no território, com práticas como domínio de áreas, uso de barricadas e contenção.

“A região do litoral norte de São Paulo, Ubatuba, é muito parecida com o Rio. Em termos de relevo, é muito similar ao que a gente tem, por exemplo, ali em Angra dos Reis. Então, você vai ter um modus operandi de atuação parecido, principalmente no que diz respeito a domínio territorial”, afirmou Ferreira. O coronel acrescentou que o difícil acesso a certos locais em Ubatuba dificulta a presença da polícia e facilita a instalação de atividades criminosas.

Disputa entre CV e TCP na fronteira com Paraty

Na região de fronteira entre Ubatuba e Paraty, o Comando Vermelho fortalece sua presença, conquistando territórios antes dominados pelo Terceiro Comando Puro (TCP). De acordo com o delegado Marcello Russo, da polícia de Paraty, há uma disputa contínua entre as facções. O TCP domina tradicionalmente as comunidades de Pantanal e Pontal, enquanto o CV controla Ilha das Cobras e Condado. Porém, nos últimos anos, o CV teria avançado sobre áreas do TCP.

“Quem domina essa região da fronteira, do bairro de Trindade, que é um dos últimos pontos que vai em direção a Ubatuba, é o Comando Vermelho. A facção se fortaleceu bastante nos últimos anos, desde o fim da pandemia, em todo o Rio de Janeiro e também na cidade de Paraty”, relatou Russo. Ele afirma que o TCP está agora se reorganizando para retomar as áreas perdidas, o que pode resultar em confrontos na área.

Taxas de homicídio indicam disputa local pelo tráfico

O desinteresse do PCC na área, segundo Castilho, é evidenciado pelo aumento dos homicídios no Vale do Paraíba e litoral norte de São Paulo, consequência direta das disputas entre traficantes locais pelo controle de pontos de venda de drogas abandonados pela facção. “A taxa de homicídios nas cidades da região é uma das maiores no estado, porque os pequenos traficantes estão brigando entre si por pontos de drogas, por territórios que foram deixados pelo PCC”, explica o promotor.

 

 

 

 

 

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