Economista Marcos Lisboa critica falta de solidez fiscal e aponta fuga de investidores no Brasil
Ex-secretário de Lula avalia medidas do governo e impactos no mercado financeiro
Por Plox
03/12/2024 07h06 - Atualizado há 8 dias
O economista Marcos Lisboa, ex-secretário de Política Econômica durante o primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmou que a ausência de solidez fiscal está afastando investidores do Brasil. Ele criticou as propostas econômicas do governo, considerando-as tímidas e mal desenhadas, o que, segundo ele, tem contribuído para o cenário de instabilidade financeira.
Críticas ao pacote econômico
Em entrevista à Folha de S. Paulo, Lisboa destacou que as promessas feitas pela atual gestão, como a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil, não se sustentaram como medidas eficazes para enfrentar os problemas fiscais.
— Depois de um mês de muita especulação, anúncios, vazamentos, dúvidas, ansiedade, pariu propostas incrivelmente tímidas, mal desenhadas em alguns casos, e promessas que já várias vezes não se concretizaram — afirmou Lisboa.
O economista também abordou as distorções tributárias no país, mencionando que empresas com faturamento anual entre R$ 40 milhões e R$ 60 milhões pagam cerca de 15% de impostos, enquanto trabalhadores com salários mais altos enfrentam uma alíquota de 27,5%. Para ele, o governo tem preferido soluções superficiais em vez de enfrentar os problemas de forma estruturada e detalhada.
Déficit fiscal e cortes de gastos
Marcos Lisboa apontou que o corte de gastos anunciado pelo governo, com a meta de economizar R$ 70 bilhões, não é suficiente diante do déficit nas contas públicas, estimado em R$ 350 bilhões.
— Estamos falando de um desequilíbrio de R$ 350 bilhões [nas contas do governo federal] — disse ele, ressaltando a gravidade da situação fiscal do país.
Investidores e alta do dólar
Outro ponto destacado foi a relação entre a falta de confiança dos investidores e a alta do dólar. Lisboa rejeitou a ideia de que o câmbio elevado seja apenas resultado de especulação financeira. Ele argumentou que a ausência de solidez fiscal gerou perdas significativas para fundos de pensão, previdência e outros investidores, o que os levou a abandonar apostas no Brasil.
— Os investidores, sejam fundos de pensão, previdência, outros fundos que atraem recursos, apostaram muito no atual governo. Acreditaram que iria garantir uma solidez, e que, em razão disso, os juros iriam cair, o câmbio não iria subir. Essa foi a aposta pesada dos investidores no começo do governo. Os números estão aí. Só que deu errado. O governo não entregou solidez fiscal a longo prazo — explicou o economista.