Economia

IBGE: mulheres têm mais obstáculos e ganham menos que 80% do rendimento masculino

Síntese de Indicadores Sociais revela 101,3 milhões de pessoas ocupadas, mas mostra mulheres, especialmente pretas e pardas, mais subutilizadas, em postos precários e com renda menor; idosos avançam no mercado, porém em sua maioria na informalidade

03/12/2025 às 10:17 por Redação Plox

A nova edição da Síntese de Indicadores Sociais (SIS), divulgada nesta quarta-feira (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que, mesmo com o recorde de ocupação em 2024, de 101,3 milhões de pessoas, mulheres e homens seguem em realidades muito diferentes no mercado de trabalho.


Mulheres enfrentam mais obstáculos e recebem menos de 80% do salário dos homens, segundo o IBGE

Mulheres enfrentam mais obstáculos e recebem menos de 80% do salário dos homens, segundo o IBGE

Foto: Freepik

Desde 2012, a distância entre os percentuais de mulheres e homens ocupados se mantém praticamente estável. Em 2024, apenas 49,1% das mulheres em idade ativa estavam empregadas, contra 68,8% dos homens — mesmo elas apresentando maior nível de escolaridade.

Essa diferença é explicada sobretudo pela divisão desigual dos cuidados e das tarefas domésticas, que reduz o tempo disponível das mulheres e limita suas oportunidades de trabalho.

Quando conseguem uma vaga, elas também recebem menos. Em 2024, o rendimento médio feminino correspondeu a 78,6% do masculino. Em áreas como serviços e comércio, a desigualdade é ainda mais profunda: as mulheres chegaram a ganhar apenas 63,8% do salário dos homens.

A única área em que elas recebem mais é nas Forças Armadas e forças policiais, um segmento de baixa representatividade dentro da economia.

Mulheres com ensino superior têm taxas de ocupação mais altas que aquelas com menor escolaridade, mas ainda ficam atrás dos homens com o mesmo nível de formação. Elas também se concentram com mais frequência em atividades precárias, como o trabalho doméstico sem carteira assinada, condição que atinge 9,4% das trabalhadoras.

Em 2024, 20,4% das mulheres brasileiras estavam subutilizadas — ou seja, queriam trabalhar mais, mas não conseguiam. Entre os homens, a taxa foi de 12,8%.

De acordo com o IBGE, a desigualdade é ainda mais intensa entre mulheres pretas e pardas, que registram as maiores taxas de subutilização e pobreza entre todos os grupos analisados.

Idosos ampliam presença no mercado após reforma da Previdência

Enquanto a inserção feminina ainda enfrenta barreiras, o grupo de pessoas com 60 anos ou mais vem ganhando espaço no mercado de trabalho. O nível de ocupação nessa faixa etária alcançou 24,4% em 2024, o maior patamar da série histórica. Na prática, um em cada quatro idosos estava trabalhando no país.

Entre 2012 e 2024, a população idosa cresceu 53,3%, chegando a 34,1 milhões de pessoas, o equivalente a quase 20% da população em idade de trabalhar.

Segundo o IBGE, um dos fatores para esse avanço é o aumento da longevidade. Pesquisa recente do instituto mostrou que a expectativa de vida atingiu 76,6 anos em 2024, um ganho de 2,5 meses em relação a 2023.

Em 2019, a reforma da Previdência também ampliou o tempo mínimo de trabalho e de contribuição, o que levou muitas pessoas a permanecerem mais tempo ativas. Por isso, é importante entender de que forma esses trabalhadores têm se inserido no mercado de trabalho brasileiro. pesquisadora do IBGE Denise Guichard Freire

Apesar da idade, os idosos apresentam indicadores melhores que os jovens: a taxa de desemprego nesse grupo é de 2,9%.

Esse número, no entanto, reflete o fato de que muitos já estão inseridos no mercado ou fora da força de trabalho — seja por aposentadoria, seja por não buscarem mais uma ocupação. Além disso, a maioria dos idosos trabalha na informalidade: 55,7% não têm vínculo formal.

A pesquisadora ressalta que há menos pessoas dessa faixa etária procurando emprego, já que muitas estão mais consolidadas em suas atividades e nem sempre dependem de um posto formal gerado por empresas ou famílias, recorrendo ao trabalho por conta própria ou à abertura de negócios.

Entre os principais resultados para o grupo 60+ em 2024, o estudo destaca:

• 34,2% dos homens com 60 anos ou mais estavam ocupados, ante 16,7% das mulheres;
• Na faixa de 60 a 69 anos, 48% dos homens trabalhavam, contra 26,2% das mulheres;
• 55,7% dos idosos ocupados atuavam na informalidade;
• Entre idosos pretos e pardos, a informalidade chegava a 61,2%;
• O rendimento médio dos idosos ocupados era de R$ 3,5 mil;
• Mulheres idosas recebiam cerca de R$ 2,7 mil, enquanto homens superavam R$ 4 mil;
• Idosos pretos ou pardos ganhavam quase metade do rendimento dos idosos brancos.

Mercado de trabalho reage, mas desigualdades persistem

A pesquisa mostra que, em 2024, o Brasil registrou a retomada mais intensa do mercado de trabalho desde 2012. O nível de ocupação chegou a 58,6% da população em idade ativa, somando 101,3 milhões de pessoas trabalhando no país.

Segundo o IBGE, esse movimento ganhou força a partir de 2022 e vem acompanhado de quedas consistentes tanto na taxa de desocupação quanto na taxa composta de subutilização da força de trabalho.

As taxas de desocupação e subutilização, que haviam subido de 2015 (8,9% e 18,2%) até o pico de 2021 (14,0% e 28,5%), recuaram nos três anos seguintes, chegando a 6,6% e 16,2% em 2024, respectivamente.

Informalidade avança e ganha peso na geração de vagas

A participação de trabalhadores sem vínculo formal, que já vinha crescendo entre 2015 e 2019 — quando atingiu 45,6% dos ocupados —, voltou a avançar a partir de 2021 e chegou a 46,5% em 2024.

Embora o aumento total de pessoas ocupadas em 2024 tenha sido semelhante entre trabalhadores formais e informais, o ritmo foi mais intenso entre empregados sem carteira assinada, cujo contingente cresceu 4,2% em relação a 2023, contra alta de 1,8% entre os autônomos.

O estudo reforça que a informalidade permanece como traço estrutural do mercado de trabalho brasileiro, englobando empregados e domésticos sem carteira, trabalhadores por conta própria e empregadores que não contribuem para a Previdência, além de trabalhadores familiares auxiliares.

A expansão da ocupação segue concentrada no setor de Serviços, que continua liderando a absorção de mão de obra.

Em 2024, as maiores altas no número de trabalhadores foram registradas em:

• Transporte, armazenagem e correio: +7,7%;
• Outros serviços: +5,6%;
• Construção: +5,3%;
• Comércio e reparação: +4%.

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