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Pesquisa revela que quase 9 milhões de brasileiras sofreram violência digital em um ano

Levantamento do Datasenado em parceria com a Nexus mostra que uma em cada dez mulheres com 16 anos ou mais foi vítima de ataques virtuais, como mensagens ameaçadoras, invasão de contas e divulgação de mentiras nas redes sociais

03/12/2025 às 11:26 por Redação Plox

Quase 9 milhões de brasileiras, o equivalente a uma em cada dez mulheres com 16 anos ou mais, relataram ter sofrido algum tipo de violência digital nos últimos 12 meses.


O dado faz parte da Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, realizada pelo Datasenado em parceria com a Nexus, com mais de 21 mil entrevistas em todo o país, e foi obtido com exclusividade pelo Bom Dia Brasil.

Levantamento inédito integra a Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, conduzida pelo Datasenado em parceria com a Nexus

Levantamento inédito integra a Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, conduzida pelo Datasenado em parceria com a Nexus

Foto: Reprodução / Agência Brasil.



É a primeira vez que o levantamento analisa de forma aprofundada o cenário de violência de gênero no ambiente digital no Brasil.

Principais formas de violência digital

As entrevistadas relataram quais são as agressões mais comuns no ambiente virtual. Entre elas estão:


Mensagens ofensivas e ameaçadoras enviadas repetidamente; invasão de contas e dispositivos pessoais; e divulgação de mentiras nas redes sociais.

Os ataques virtuais se tornaram tão frequentes que muitas mulheres passaram a considerar esse tipo de crime como algo normal, o que contribui para a subnotificação.


Segundo os pesquisadores, no ambiente online as vítimas podem demorar mais a perceber que estão sofrendo violência e, por isso, demoram mais a buscar ajuda e a denunciar.

Essa naturalização da violência digital é apontada como um dos principais desafios para o enfrentamento do problema.

Naturalização e necessidade de proteção

A pesquisa indica que, além de incentivar a denúncia, é fundamental reforçar a proteção das mulheres no ambiente digital. Isso inclui maior segurança nas plataformas, investigações mais ágeis e responsabilização efetiva dos agressores.


Também aparece como parte da solução a educação de meninos e jovens para o respeito às mulheres, ainda na infância e na adolescência.

Os números levaram a gente a pensar o quanto essa violência digital está naturalizada. Muitas vezes, um insulto no meio digital é relevado. (...) Ela tem que denunciar essa violência. Nós temos leis para coibir a violência digital. Maria Teresa Prado, coordenadora do Observatório da Mulher contra a Violência do Senado Federal

Violência que sai da tela e chega à vida real

Uma jovem de 22 anos, que prefere não ser identificada, relatou ser alvo de agressões virtuais há quatro anos. Ela contou que o terror começou em 2022, após publicar um post em defesa da memória da vereadora assassinada Marielle Franco, o que atraiu a atenção de um grupo.


Os primeiros ataques surgiram em uma rede social, com insultos constantes. Dois anos depois, a violência se intensificou: ela passou a receber diariamente ameaças de estupro e de morte, além de montagens produzidas com inteligência artificial que simulavam fotos em que aparecia nua ou em cenas pornográficas.


Até encomendas passaram a chegar pelo correio.

Segundo ela, a perseguição mudou sua rotina e limitou sua liberdade de circulação e de exposição em espaços públicos e nas redes.

Como e onde denunciar violência digital

Especialistas reforçam que é muito importante denunciar qualquer forma de violência no ambiente virtual. As vítimas podem procurar qualquer delegacia da Polícia Civil ou unidades especializadas, como Delegacias da Mulher e delegacias de Crimes Cibernéticos.


Também é possível registrar denúncia pela internet, por meio da Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos, mantida pela associação civil Safernet Brasil, no endereço: https://new.safernet.org.br/denuncie


A central é única na América Latina e no Caribe e recebe, em média, 2.500 denúncias por dia envolvendo páginas com indícios de crimes como pornografia infantil ou pedofilia, racismo, neonazismo, intolerância religiosa, apologia e incitação a crimes contra a vida, homofobia e maus-tratos contra animais.


Pela plataforma, o internauta consegue acompanhar em tempo real o andamento da denúncia. Do total de denunciantes, 99% escolhem registrar o caso de forma anônima, e para o 1% restante é garantido anonimato completo.


A Central Ligue 180 também recebe denúncias e funciona gratuitamente, 24 horas por dia, todos os dias da semana, a partir de Brasília. Qualquer pessoa pode ligar para denunciar ou buscar informações sobre todos os tipos de violência. O atendimento é feito por mulheres capacitadas em violência de gênero, que acolhem a vítima e orientam sobre os próximos passos.

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