Bolsonaro queria que Anvisa mudasse bula da cloroquina, afirma Mandetta
O presidente queria alterar a bula para o remédio ser indicado ao tratamento de Covid-19
Por Plox
04/05/2021 15h05 - Atualizado há quase 3 anos
Durante depoimento à Comissão parlamentar de inquérito (CPI) da Pandemia, nesta terça-feira (4), o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta disse que Bolsonaro queria alterar a bula da cloroquina para ser indicada ao tratamento da Covid-19.
Ainda segundo o ex-ministro, a alteração na bula do medicamento que tem ineficácia contra a doença, comprovada cientificamente, foi negado por Antonio Barra Torres, presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
“Eu estive dentro do Palácio do Planalto quando fui informado, após uma reunião, que era para eu subir para o terceiro andar porque tinha lá uma reunião com vários ministros e médicos que iam propor esse negócio de cloroquina, que eu nunca tinha conhecido. Quer dizer, ele tinha esse assessoramento paralelo", relatou Mandetta.
"Nesse dia, havia sobre a mesa, por exemplo, um papel não-timbrado de um decreto presidencial para que fosse sugerido daquela reunião que se mudasse a bula da cloroquina na Anvisa, colocando na bula a indicação da cloroquina para coronavírus. E foi inclusive o próprio presidente da Anvisa, Barra Torres que disse não", continuou.
O ex-ministro também falou sobre os questionamentos de Bolsonaro sobre a cloroquina. “Me lembro do presidente sempre questionar a questão ligada a cloroquina como a válvula de tratamento precoce, embora sem evidência científica. Eu me lembro do presidente algumas vezes falar que ele adotaria o chamado confinamento vertical, que era também algo que a gente não recomendava", contou.
"[...] do Ministério da Saúde nunca houve a recomendação de coisas que não fossem da cartilha da Organização Mundial de Saúde, dessas estruturas todas, era o que a gente tinha, não por sermos donos da verdade, não, pelo contrário, nós éramos donos da dúvida, eu torcia muito para aquelas teorias de que ‘ah, o vírus não vai chegar no Brasil’, agora, se eu adotasse aquela teoria e chegasse, teria sido uma carnificina”, disse em depoimento.
CPI
A CPI foi criada para apurar ações e possíveis omissões do governo federal durante a pandemia da covid-19. Os repasses da União feitos para estados e municípios também estão na mira dos parlamentares.
Depoimentos
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia do Senado começou a ouvir nesta terça-feira (4), de forma semipresencial, os primeiros depoimentos de ex-ministros da Saúde. Ambos estarão presencialmente na sala da CPI e são ouvidos na condição de testemunhas.
Já o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, não deve depor nesta quarta-feira (5) na CPI da Pandemia, como estava marcado pela Comissão. Omar Aziz disse que foi comunicado, de forma não oficial, que nesse fim de semana, o ex-ministro teve contato com dois comandantes que foram diagnosticados com Covid-19, por isso, foi orientado a não comparecer ao Senado.