Ameaça climática e pobreza extrema no Brasil

Desastres como secas, enchentes e inundações urbanas causam perdas anuais de R$ 13 bilhões (0,1% do PIB de 2022).

Por Plox

04/05/2023 11h59 - Atualizado há cerca de 1 ano

Eventos climáticos extremos podem empurrar entre 800 mil e 3 milhões de brasileiros para a pobreza extrema a partir de 2030, de acordo com o Relatório sobre Clima e Desenvolvimento para o Brasil (CCDR), publicado pelo Banco Mundial. Desastres como secas, enchentes e inundações urbanas causam perdas anuais de R$ 13 bilhões (0,1% do PIB de 2022).

Stephane Hallegate, consultor de Mudanças Climáticas do Banco Mundial e coautor do relatório, destaca que "investir em pessoas e em infraestrutura em áreas menos desenvolvidas é importante para tornar essa população de baixa renda mais resiliente", e que isso contribuirá para o crescimento econômico do país.

Medidas para um desenvolvimento sustentável

O CCDR baseia-se nos objetivos estabelecidos pelo Brasil no Acordo de Paris e nas edições da Conferência das Partes (COPs). O relatório recomenda ações em quatro frentes: reformas estruturais e medidas de aumento da produtividade, políticas econômicas abrangentes para o crescimento resiliente e de baixo carbono, políticas setoriais e pacotes de investimentos, e ações para assegurar o financiamento dos investimentos necessários.

Com essas medidas, o Brasil pode alcançar um desenvolvimento verde, eliminar o desmatamento ilegal até 2028, reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 50% até 2030 e zerar as emissões líquidas até 2050.

Desafios e oportunidades

Embora o Brasil tenha reduzido significativamente a parcela de pessoas em situação de pobreza extrema nas últimas três décadas, o número de indivíduos nessa condição aumentou em 2015 e 2016, chegando a 5,8% da população em 2021. O relatório sugere várias medidas para que o Brasil possa cumprir seus compromissos climáticos e de desenvolvimento sem prejudicar a população mais vulnerável. Entre as ações propostas estão o apoio a atividades econômicas sustentáveis baseadas no solo e nas florestas, expansão de áreas protegidas, incluindo territórios indígenas, e a criação de Reservas Florestais Legais (RFLs) conforme exigido pelo Código Florestal.

Tânia Rego Agência Brasil

Energia renovável e competitividade

As mudanças climáticas já estão afetando os padrões de temperatura e o regime pluviométrico no Brasil, resultando em menos disponibilidade de água e secas prolongadas. Segundo o relatório, isso pode gerar consequências graves para a agricultura, o abastecimento de água nas cidades, a infraestrutura de transporte e a geração de energia hidrelétrica.

O Brasil é um dos dez maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo, mas a maioria das emissões (76% entre 2000 e 2020) é resultado de mudanças no uso do solo, incluindo desmatamento e agricultura. Por outro lado, quase metade da matriz energética do país é proveniente de fontes renováveis, incluindo mais de 80% de sua eletricidade, em comparação com as médias globais de cerca de 15% a 27%. A prevalência de energia renovável e o potencial brasileiro para a produção de bens e serviços ecológicos colocam o país em vantagem competitiva no fornecimento dos produtos necessários para a descarbonização, incluindo minerais verdes, hidrogênio verde e produtos ecológicos manufaturados.

Stephane Hallegate afirma que "o uso sustentável dos recursos naturais está se tornando um requisito para a competitividade nos mercados internacionais", e ressalta a capacidade do Brasil de inovar e liderar em novas tecnologias. Segundo ele, o país pode se beneficiar dessa tendência, especialmente com o crescimento dos veículos elétricos e outras tecnologias verdes.

Nesse contexto, a priorização dos esforços para conter o desmatamento permitiria ao Brasil não apenas preservar seus ecossistemas, mas também descarbonizar gradualmente outros setores produtivos. Dessa forma, o país estaria contribuindo tanto para a mitigação dos impactos das mudanças climáticas quanto para o desenvolvimento sustentável e inclusivo, aliviando a pobreza extrema e promovendo a resiliência da população mais vulnerável.

 

 

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