Anvisa aprova primeira insulina inalável para diabetes no Brasil

Batizada de Afrezza, a nova insulina é comercializada em pó, em cartuchos com três tipos de dosagem

Por Plox

04/06/2019 09h01 - Atualizado há cerca de 6 anos

Na última quinta-feira (30), a resolução que concede o registro ao produto foi aprovada e publicada nessa segunda-feira (3) no Diário Oficial da União. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a comercialização da primeira insulina inalável do País.

A nova insulina foi batizada de Afrezza, ela é comercializada em pó, em cartuchos com três tipos de dosagem. A utilização do paciente com diabete deve ser feita encaixando o cartucho no inalador e, em seguida, aspirando o pó. A substância chega ao pulmão e é absorvida pela corrente sanguínea, cumprindo a função de reduzir os níveis de açúcar no sangue. Atualmente, as insulinas disponíveis no mercado brasileiro são todas injetáveis.

Conforme especialistas, embora seja uma alternativa no tratamento e um ganho na qualidade de vida reduzir a quantidade de injeções, a Afrezza tem limitações. Ela não é capaz de substituir as aplicações diárias de insulina, tem pouca variedade de dosagens e é contraindicada para pacientes com doenças pulmonares e menores de 18 anos.

Entretanto, por não exigir refrigeração, é mais fácil transportar e armazenar, podendo reduzir o número de picadas de agulho a que o paciente se submete diariamente.

Podendo substituir somente aplicações de insulina rápida ou ultrarrápida, a insulina inalável também é chamada de bolus. Geralmente utilizada antes de cada refeição, quando o organismo precisa de um volume maior do hormônio para compensar o açúcar ingerido.

(Foto: Afrezza / Reprodução / CP)

(Foto: Afrezza / Reprodução / CP)

Já a insulina basal, de ação mais lenta, geralmente é aplicada uma vez por dia e não poderá ser substituída pelo produto inalável, de acorda com Livia Porto, endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. "Se o paciente diabético tem um tratamento nesse esquema basal-bolus, ele costuma fazer pelo menos quatro aplicações por dia: uma basal e três bolus, no café da manhã, almoço e jantar. Se passar a usar a inalável, ele diminuiria de quatro aplicações diárias para uma aplicação. Seria um ganho de qualidade de vida, mas não substituiria totalmente a injetável".

"No momento das refeições, o paciente muitas vezes tem que utilizar a insulina em uma situação social, fora de casa, e, com a inalável, o procedimento pode ser mais rápido e discreto. O inalador cabe na palma da mão. É uma grande inovação na forma de aplicar", relata Heraldo Marchezini, da CEO da Biomm, empresa responsável pela fabricação e distribuição do produto no Brasil.

Segundo ele, o produto pode ser usado tanto por pacientes com diabete tipo 1 quanto por portadores do tipo 2 da doença. Considerando, no entanto, que a maioria dos diabéticos tipo 2 fazem tratamento com comprimidos e não com insulina, os principais beneficiados pelo novo produto seriam os pacientes com diabete tipo 1, em que o tratamento obrigatoriamente inclui aplicação de insulina.

O endocrinologista Freddy Eliaschewitz, assessor científico da Sociedade Brasileira de Diabetes e diretor do Centro de Pesquisa Clínicas CPclin, instituição brasileira que participou dos estudos da insulina inalável informa que, "No caso do diabético tipo 2, a Afrezza seria indicada somente para aqueles pacientes que não estão conseguindo controlar a glicemia somente com medicação via oral". De acordo com Freddy, cerca dos 15 milhões de brasileiros que possuem diabete, estima-se que 10% possua o tipo 1 da doença e 90%, o tipo 2. 

"Nossa expectativa é que ainda neste ano o produto passe pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED)", diz o CEO da Biomm. A câmara é uma instância da Anvisa que estabelece os preços dos medicamentos antes de eles chegarem ao mercado.

Marchezini informa que ainda não consegue estimar quanto o produto custará no Brasil.

Atualizada às 9h40

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