Festival Mundial de Circo agita Belo Horizonte com espetáculos e debates

Evento destaca a peça "Um Domingo", que combina habilidades circenses e crítica social

Por Plox

04/06/2024 09h14 - Atualizado há 5 meses

Desde sua primeira edição em 2001, o Festival Mundial de Circo desafiou previsões de que as artes circenses estariam condenadas ao esquecimento. "Acho o contrário. Como todas as outras artes, o circo se adapta. Hoje em dia vejo muitos espetáculos que usam tecnologia, com aparelhos que vieram até da Nasa, acompanhando a evolução que a gente vive", afirma Fernanda Vidigal, coordenadora e idealizadora do festival.

A 22ª edição do festival, iniciada hoje em Belo Horizonte, ilustra essa transformação ao mesclar tradições do circo clássico com as mais recentes inovações tecnológicas. Com um orçamento de R$ 1,4 milhão, grande parte dele foi destinada à criação da Cidade do Circo, na Funarte, onde acontecerão a maioria das atividades, incluindo apresentações, debates e exposições.

Programação diversa e inclusiva

Por seis dias, o público poderá imergir no universo circense, com uma programação que inclui desde uma feira de artigos até uma praça de alimentação temática. O festival prioriza a produção nacional, com espetáculos de diversas regiões do Brasil, como Tocantins, Pernambuco, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. "A pandemia foi muito difícil para os circenses. Até hoje a circulação não se recuperou. Nossa forma de ajudar é mostrar a diversidade da produção brasileira", explica Fernanda.

Espetáculo "Um Domingo": crítica social e arte circense

O grande destaque do festival é "Um Domingo", um espetáculo criado pelo Projeto Migra, composto por artistas da Argentina e do Uruguai. A peça mistura teatro, ópera, ilusionismo e crítica social, sem apresentar números circenses tradicionais. "É lindo, empolgante e muito contemporâneo, mostrando tudo do que o circo é capaz hoje. Não tem apresentador ou número circense, mas sim uma dramaturgia interessante, que envolve todo o público", comenta Fernanda.

Espetáculo de Variedades e o encontro de artistas

O circo tradicional também marca presença no programa Espetáculo de Variedades, que desde 2006 reúne artistas nacionais e internacionais em números curtos, exibindo técnicas como malabarismo, trapézio e contorcionismo. O diretor e coreógrafo catalão Cisco Aznar foi convidado para costurar esses números variados em um espetáculo coeso. Nesta edição, o Espetáculo de Variedades contará com a participação especial do Favelinha Dance.

Debates e desafios do circo no Brasil

O festival também promove discussões sobre a produção e a difusão do circo no país, abordando as diferentes realidades enfrentadas por artistas com lona e trupes itinerantes. Fernanda Vidigal destaca a falta de formação superior no Brasil, o que obriga muitos artistas a buscar treinamento no exterior.

Reflexão e criatividade em "Um Domingo"

"Um Domingo" aborda temas como a decadência aristocrática e a luta entre amor e ódio, usando habilidades circenses para intensificar a narrativa. "O que trazemos como novidade, como um lugar novo de pesquisa, é a conexão bastante particular entre teatro e circo", afirma Tato Villanueva, cofundador do Projeto Migra. A peça tem sido sucesso em festivais e continua a evoluir, trazendo uma visão contemporânea e crítica do circo.

Superando desafios com criatividade

Apesar das dificuldades enfrentadas, especialmente na Argentina após os cortes promovidos pelo presidente Javier Milei, Villanueva vê a crise como um estímulo à criatividade. "Num momento de injustiça social, usamos a arte para despertar o espectador, fazê-lo pensar", ressalta. Sem possibilidade de realizar projetos no país, a companhia tem explorado o Uruguai e o Brasil.

Serviço

O que: Festival Mundial de Circo
Quando: De terça (4) a domingo (9)
Onde: Funarte (rua Januária, 68, centro), teatro do Galpão Cine Horto, e ruas e praças dos bairros Regina, Cidade Nova e Vila Acaba-Mundo
Quanto: Gratuito (com exceção dos espetáculos no Galpão)
Mais informações no site oficial

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