Cientistas descobrem nova espécie de morcego no Pantanal e homenageiam etnia guarani
Animal foi identificado após mais de um século em coleções científicas; espécie atua no controle de insetos e carrega nome indígena
Por Plox
04/06/2025 15h36 - Atualizado há 5 dias
Depois de décadas passando despercebida entre exemplares já conhecidos, uma nova espécie de morcego foi finalmente descrita por cientistas da Fiocruz Mata Atlântica, com apoio da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), da Universidade do Porto, em Portugal, e do Smithsonian Institution, nos Estados Unidos.

O animal, batizado de Myotis guarani, recebeu esse nome em homenagem ao povo indígena que historicamente ocupava regiões onde a espécie hoje habita, como o Pantanal, o Chaco e áreas de transição do Cerrado com a Mata Atlântica, em países como Brasil, Bolívia, Paraguai e Argentina.
Pesando cerca de 6 gramas e alimentando-se exclusivamente de insetos, o morcego atua como importante agente no controle de pragas agrícolas e vetores de doenças, podendo consumir mais de 200 insetos por noite, entre mariposas, mosquitos e besouros.
A descoberta, publicada na revista científica Journal of Mammalogy, foi possível graças à taxonomia integrativa — abordagem que une análises genéticas, morfológicas e ecológicas. O estudo se iniciou com a análise do DNA de amostras de sangue, pele e órgãos, que indicou a existência de uma nova espécie. A partir daí, os cientistas investigaram exemplares preservados em coleções centenárias para confirmar a novidade.
Conforme explicou o pesquisador Roberto Novaes, da Fiocruz e autor principal do estudo, o Myotis guarani é uma espécie críptica: visualmente semelhante a outras do mesmo gênero, dificultando sua identificação até mesmo por especialistas experientes. Isso fez com que ela permanecesse despercebida por mais de 120 anos em coleções ao redor do mundo.
No Brasil, o Myotis guarani está presente principalmente no Pantanal, mas também pode ser encontrado em zonas de transição com o Cerrado e a Mata Atlântica. Embora seja comum nessas regiões, os pesquisadores alertam que isso não significa ausência de risco para a espécie.
A descoberta integra o projeto “Rede de prospecção e monitoramento de agentes zoonóticos associados a morcegos no Brasil”, com financiamento da FAPERJ e do CNPq. O próximo passo da pesquisa é investigar se o Myotis guarani pode ser hospedeiro de microrganismos relevantes para a saúde pública, além de aprofundar os estudos sobre seu comportamento, dieta, reprodução e distribuição geográfica.
Ricardo Moratelli, coordenador da Fiocruz Mata Atlântica e líder do projeto, ressaltou que, apesar dos morcegos poderem ser reservatórios de microrganismos, eles desempenham papel crucial na manutenção dos ecossistemas. Ele defende a criação de programas específicos de conservação e manejo adequado desses animais, principalmente em regiões de grande contato com humanos.
O alerta se intensifica diante do avanço do agronegócio no Pantanal, onde práticas como desmatamento e incêndios ameaçam o equilíbrio ambiental e impactam diretamente a sobrevivência da nova espécie. \"Ainda não sabemos a magnitude desses impactos sobre o Myotis guarani, mas certamente ele está sendo afetado\", finalizou Novaes.