Estreia do filme 'A Flor do Buriti' destaca a luta do povo Krahô

Filme premiado retrata a história de resistência dos Krahôs ao longo de 80 anos

Por Plox

04/07/2024 09h58 - Atualizado há 3 meses

O filme "A Flor do Buriti", dirigido por Renée Nader Messora e João Salaviza, estreia hoje nos cinemas brasileiros, trazendo à tona a poderosa narrativa de resistência do povo indígena Krahô, do Tocantins. Premiado na mostra "Un Certain Regard" do Festival de Cannes no ano passado, o longa-metragem se destaca por seu elenco composto inteiramente por indígenas, que atuam de forma convincente ao retratar sua própria realidade e história.


Foto: EMBAÚBA/DIVULGAÇÃO

Uma obra coletiva

João Salaviza destaca a importância do trabalho coletivo na criação do filme. "É a potência do coletivo. Em primeiro lugar, do coletivo Krahô, que participa do filme com as suas histórias e memórias, no roteiro e na atuação, em sua língua. E também a possibilidade de um trabalho coletivo entre indígenas e não-indígenas para fazer esse objeto que é tão inclassificável", explica o cineasta.

O filme transita entre a ficção e o documentário, explorando várias temporalidades. "A gente faz muita piada sobre o dia que chegar a uma plataforma, já que terão muita dificuldade em catalogar. Não vão saber o que fazer", brinca Salaviza, feliz com o reconhecimento do trabalho que vai além de um simples olhar autoral. "Não é uma obra de dois diretores, com um olhar sobre uma realidade. Mas sim um trabalho feito ‘com’", afirma.

Narrativa multifacetada

"A Flor do Buriti" é um filme repleto de camadas, que parte do presente para construir uma narrativa que abrange 80 anos de história dos Krahôs. "Para tempos e problemáticas tão conturbados, uma narrativa linear não iria dar conta. A gente precisava de algo igualmente conturbado e afetado pela continuidade das violências que atravessam vários tempos – os históricos e também os que refletem as memórias dos Krahôs", observa Salaviza.

A imaginação indígena desempenha um papel crucial na reinterpretação dessas violências. O filme revisita os anos 1940, período marcado por um massacre, e a ditadura militar, quando os Krahôs e outros povos indígenas enfrentaram a militarização forçada. "Ele potencializa e se aproxima desse imaginário indígena para revisitar outros tempos", destaca o cineasta.

Contexto contemporâneo

Além de abordar eventos históricos, "A Flor do Buriti" também se passa durante o governo de Jair Bolsonaro, um período em que, segundo Salaviza, "todas essas violências voltaram à tona com o dobro ou o triplo de intensidade". O cineasta acredita que o sucesso do filme está relacionado ao processo de produção, que mescla o rigor da ficção com a profundidade do documentário. "A gente fica 15 meses filmando, mas antes disso há mais de dez anos de relação com os Krahôs", ressalta Salaviza.

O filme, que estreia hoje nos cinemas Belas Artes e Minas Tênis, promete proporcionar ao público uma imersão na rica e complexa história do povo Krahô, destacando sua luta contínua e a importância de suas memórias e narrativas na construção de uma obra cinematográfica única.

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