O Silêncio rompido: revelações sobre estupro dentro de relacionamentos próximos
Psicóloga relata o drama que viveu com namorado que a estuprava
Por Plox
04/08/2023 08h26 - Atualizado há quase 2 anos
Ao encarar o problema do estupro, uma imagem comum que vem à mente é a de um estranho nas sombras da noite, atacando em ruas solitárias. No entanto, essa visão distorcida é confrontada com a dura realidade apresentada no Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022. Segundo o relatório, a maioria dos abusos sexuais (68,3%) ocorre dentro de casa e é perpetrada por pessoas conhecidas pela vítima (82,7%). Isto inclui membros da família, vizinhos, e até cônjuges ou parceiros íntimos. Alarmantemente, as vítimas mais comuns são menores de 13 anos, correspondendo a 61,4% dos casos.
A História de Marina: Sobrevivendo a um Pesadelo Pessoal
A psicóloga Marina*, 27 anos, foi vítima deste tipo de violência. Ela se recorda de sentir o olhar de um pedófilo ainda na infância e, mais tarde na adolescência, se viu escondendo suas pernas para evitar assédio sexual em um ônibus. No entanto, o maior trauma veio de alguém muito mais próximo - seu namorado. Durante três anos, Marina sofreu estupros repetidos em um relacionamento abusivo. Relatou que a violência sexual a que era submetida, às vezes, a fazia perder o ar e a visão.
Enquanto estava na relação, Marina confessou que era coagida a manter relações sexuais contra sua vontade e sob intensa violência. Seu parceiro a fazia sentir culpada pelos abusos sofridos e seus amigos permaneciam indiferentes, exacerbando ainda mais o trauma.
Fuga da Violência e Busca por Justiça
Após procurar a assistência de uma advogada, Marina conseguiu se libertar do ciclo de violência. Ela gravou vídeos das confissões do ex-parceiro sobre os crimes cometidos e, agora, aguarda que ele seja indiciado por violência doméstica. Isabella Pedersoli, presidente da Comissão de Enfrentamento à Violência contra a Mulher da OAB-MG, sublinha a importância da busca por assistência jurídica em situações de violência.
O Poder da Educação para Combater a Violência de Gênero
Especialistas afirmam que para realmente proteger as mulheres em uma sociedade marcadamente machista, é necessário mais do que a aplicação de punições severas. É crucial promover empatia, educação, e intervenção em situações de violência. Isabella Pedersoli e a professora Deborah Carvalho Malta da Escola de Enfermagem da UFMG enfatizam a necessidade de educação para a mudança cultural, a promoção de conceitos de solidariedade e a erradicação do machismo.
Responsabilizando a Vítima: Um Reflexo do Machismo Estrutural
A advogada Isabella Pedersoli também condena o comportamento de culpabilização da vítima que é frequentemente visto em comentários na internet. Ela destaca a importância de não naturalizar comportamentos prejudiciais, como o assédio sexual no local de trabalho.
Falta de Recursos para Mulheres Vítimas de Violência
Minas Gerais possui atualmente 69 Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (Deams), duas na capital e 67 na região metropolitana e no interior. Contudo, de acordo com especialistas, ainda é insuficiente para um estado com 853 municípios. O acesso limitado a estas delegacias, especialmente para mulheres em cidades menores, representa um obstáculo significativo para a denúncia de casos de violência.
Com a revelação de histórias como a de Marina, torna-se cada vez mais evidente a necessidade de ações concretas para a prevenção e o combate à violência sexual, principalmente aquela perpetrada por pessoas próximas às vítimas.