Minas enfrenta aumento expressivo de casos de coqueluche, com temor de surto

Estado registra 26 novos casos em menos de quatro dias e investiga 454 suspeitas; vacinação está abaixo da meta.

Por Plox

04/09/2024 08h41 - Atualizado há cerca de 2 meses

Em menos de quatro dias, Minas Gerais registrou 26 novos casos de coqueluche, reforçando o alerta de autoridades de saúde sobre a possibilidade de um surto. O número crescente de infecções foi identificado entre os dias 30 de agosto e 3 de setembro, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES-MG). Com a confirmação recente da morte de um bebê em Poços de Caldas, no dia 19 de julho, Minas agora investiga outros 454 casos suspeitos da doença.

Foto: PJF

Vacinação e desafios no combate à coqueluche

Embora a vacina seja o principal método de prevenção, a cobertura vacinal ainda está abaixo do ideal. A vacina pentavalente, que protege contra coqueluche, difteria, tétano, Haemophilus influenzae tipo b e hepatite B, está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, a meta de vacinar 95% da população não foi atingida, com uma cobertura atual de apenas 71,09%. O imunizante DTP, que também previne contra a coqueluche, está em falta no país.

O infectologista Leandro Curi destaca a importância da vacinação para evitar mortes, como a ocorrida em Poços de Caldas. “Uma população imunizada dificilmente vai registrar morte como aconteceu em Poços de Caldas e, por isso, essa perda é enorme”, disse Curi, alertando para a necessidade de aumentar a cobertura vacinal, que vem caindo desde 2016 e só começou a melhorar em 2023.

Avanço global da coqueluche

O risco de um surto não se limita ao Brasil. Relatórios recentes indicam que a coqueluche tem avançado em diversas regiões do mundo. Na União Europeia, o número de casos saltou de 25.130, em 2023, para 32 mil no primeiro trimestre de 2024. Na China, até fevereiro de 2024, foram notificados 32,38 mil casos e 13 óbitos. Um surto também foi registrado na Bolívia. Especialistas apontam que a pandemia de Covid-19 pode ter contribuído para a baixa atividade da doença nos últimos anos, com o retorno agora em um cenário de menor cobertura vacinal.

Subnotificação e transmissão da doença

A coqueluche é transmitida facilmente por gotículas de saliva, assim como a Covid-19, o que aumenta a preocupação de subnotificação dos casos. Curi alerta para essa possibilidade, mencionando que os sintomas em adultos podem ser confundidos com outras doenças respiratórias, como pneumonia. “Essa tosse crônica se confunde com alergias, covid, influenza, e o diagnóstico errado causa subnotificação. Podemos ter muito mais casos entre nós do que imaginamos”, afirmou o especialista.

A doença tem sintomas que se dividem em três fases. Na fase inicial, chamada de catarral, os sinais incluem coriza, febre baixa e tosse leve. Já na fase paroxística, a tosse se intensifica, com episódios que podem durar minutos e causar vômitos e fadiga. A fase final, ou convalescença, marca a diminuição gradual dos sintomas, mas episódios de tosse podem ressurgir em casos de novas infecções respiratórias.

Tratamento e isolamento

O tratamento para a coqueluche é feito com antibióticos e o paciente deve ser mantido isolado até o término da medicação para evitar a propagação da doença. O repouso e a hidratação são medidas complementares no processo de recuperação.

Esquema vacinal e proteção

O esquema de vacinação contra a coqueluche envolve três doses da tríplice bacteriana aplicadas aos dois, quatro e seis meses de idade, com reforços aos 15 meses e aos quatro anos. Gestantes também são imunizadas a partir da 20ª semana de gestação para proteger o bebê. No entanto, a vacina para adultos não está disponível no SUS, exceto para gestantes e trabalhadores da saúde, podendo ser adquirida em clínicas privadas.

A prevenção continua sendo a principal arma contra o avanço da coqueluche, uma doença que pode ser grave, especialmente para bebês e crianças. Com a possibilidade de mais casos não detectados, a vigilância epidemiológica precisa estar atenta para interromper a cadeia de transmissão e evitar um surto em Minas e outras regiões do Brasil.

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