PF investiga origem de diamante gigante retido em Minas Gerais

Pedra de 646,78 quilates é alvo de apuração que envolve garimpeiros e empresas de Coromandel e Araguari; suspeitas incluem fraude e valor abaixo do mercado

Por Plox

04/09/2025 13h11 - Atualizado há cerca de 6 horas

A Polícia Federal (PF) e a Agência Nacional de Mineração (ANM) intensificaram as investigações sobre o segundo maior diamante já encontrado no Brasil. A pedra, de 646,78 quilates, teria sido extraída pela Diadel Mineração em Coromandel, no Alto Paranaíba, mas há fortes suspeitas de que sua verdadeira origem esteja ligada ao garimpo da Carbono Mineração, em Araguari, no Triângulo Mineiro.


Imagem Foto: Redes sociais


A apuração envolve garimpeiros, funcionários e intermediários das duas mineradoras. O objetivo é identificar quem teve contato com a gema desde a suposta extração, verificar se estavam realmente nos locais declarados e confrontar suas versões com registros técnicos, testemunhos e documentos rastreáveis. O processo pode levar até dois meses.



O diamante foi retido em 27 de agosto de 2025, quando passava pela última etapa antes da exportação: o lacre do Certificado do Processo Kimberley (CPK). Sem esse documento, a pedra não pode ser negociada no exterior. Além de identificar os trabalhadores envolvidos, a PF busca comprovar se as condições do garimpo correspondem às informações apresentadas pela empresa.



O trabalho da investigação passa também pela análise de registros fotográficos, metadados, planilhas de produção, vídeos e testemunhos. Esses arquivos podem revelar data, hora e localização exata da descoberta, além de confirmar a autenticidade da pesagem do diamante. Há indícios de que a mina da Diadel em Coromandel estaria paralisada ou em funcionamento irregular no período em que a empresa afirma ter encontrado a pedra.



Outro ponto que gera suspeita é o valor atribuído à transação. O diamante, que especialistas avaliam em até R$ 50 milhões, teria sido negociado por apenas R$ 16 milhões a R$ 18 milhões. A falta de divulgação e a pressa para concluir o negócio levantaram dúvidas sobre uma possível tentativa de escapar de questionamentos sobre a procedência.



A trajetória da Diadel também aumenta a desconfiança. A empresa, criada em 2004 e controlada desde 2024 por Carlos César Manhas, já esteve envolvida em casos de receptação de diamantes retirados de terras indígenas. A ligação de seu controlador com negociadores internacionais, especialmente israelenses, reforça a dimensão do caso.



No dia da retenção da pedra, a Diadel protocolou a desistência do processo de certificação do CPK. Embora a ANM afirme que a desistência não foi concluída, o registro de cancelamento foi interpretado como um recuo estratégico para evitar uma negativa formal. Com a apreensão, a mineradora tem agora 60 dias para apresentar documentação detalhada que comprove a legalidade da extração.



A ANM destaca que o rigor do processo de certificação Kimberley é fundamental para evitar fraudes. Caso as inconsistências se confirmem, este poderá ser um dos maiores escândalos de mineração já registrados no país.



Até o momento, a Carbono Mineração não se manifestou. A Diadel e seu sócio-administrador também foram procurados, mas não comentaram. A consultoria responsável pela movimentação do CPK afirmou não ter autorização para tratar do assunto. A PF e a ANM, por sua vez, mantêm os detalhes da investigação sob sigilo.


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