Dólar mantém estabilidade no último pregão antes das eleições
Investidores aguardam divulgação de dados de emprego dos EUA
Por Plox
04/10/2024 12h23 - Atualizado há 2 meses
O dólar apresentou leve estabilidade na abertura desta sexta-feira (4), com os investidores aguardando os dados de emprego dos Estados Unidos, conhecidos como "payroll". No último pregão antes das eleições municipais de domingo (6/10), o mercado opera com cautela.
Às 9h04, a cotação da moeda americana estava em R$ 5,4752, registrando uma pequena variação positiva de 0,03% em relação ao fechamento do dia anterior. Na quinta-feira, o dólar encerrou com uma alta de 0,53%, atingindo R$ 5,474, enquanto a Bolsa de Valores teve uma queda acentuada de 1,38%, chegando aos 131.671 pontos. Esta sexta-feira encerra uma semana de divulgações relacionadas ao mercado de trabalho americano, culminando no relatório mais aguardado pelos investidores. O "payroll" reúne informações sobre a taxa de desemprego, a força de trabalho e os setores que mais abriram ou fecharam vagas durante o mês, servindo como termômetro da economia dos EUA e orientando expectativas sobre a política monetária do Federal Reserve (Fed).
O Fed tem um mandato duplo, analisando tanto os números da inflação quanto do emprego para determinar a taxa de juros. A meta é alcançar um "pouso suave", ou seja, uma queda da inflação para a meta de 2% sem causar danos significativos à empregabilidade do país. Nos últimos meses, os índices inflacionários vêm convergindo para a meta, enquanto os dados de emprego têm desacelerado. Em resposta a esse cenário, o Fed realizou, em 18 de setembro, o primeiro corte na taxa de juros em mais de quatro anos, reduzindo-a em 0,50 ponto percentual para o intervalo entre 4,75% e 5%.
O mercado segue em dúvida sobre o ritmo dos próximos cortes. Em discurso recente, o presidente do Fed, Jerome Powell, mencionou a possibilidade de mais duas reduções na taxa de juros, cada uma de 0,25 ponto percentual, caso a economia mantenha o desempenho previsto. Powell também afirmou que as revisões recentes de dados sobre crescimento econômico, taxas de poupança e renda pessoal reduziram alguns "riscos negativos" que o Fed vinha monitorando, mas destacou a necessidade de analisar continuamente o mercado de trabalho.
Ao longo da semana, a expectativa de cortes menores foi reforçada por outros relatórios de emprego. Agora, a possibilidade de uma redução de 0,25 ponto na próxima reunião do Fed é de 67,4%, enquanto a probabilidade de um corte de 0,50 ponto, que predominava na semana anterior, diminuiu. Taxas de juros menores nos EUA tendem a enfraquecer o dólar, uma vez que tornam os títulos do Tesouro norte-americano, os "Treasuries", menos atrativos. Na quinta-feira, a perspectiva de cortes mais graduais, somada à aversão global ao risco devido ao aumento dos conflitos no Oriente Médio, impulsionou o dólar.
Desde terça-feira, cresce a preocupação com uma possível guerra mais ampla na região. O Irã, em resposta a ofensivas israelenses na Faixa de Gaza e no Líbano, lançou cerca de 200 mísseis contra Israel, intensificando o conflito. O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, declarou que essa ação é "apenas parte da capacidade" do país e alertou Israel a "não se envolver em confrontos com o Irã". Em contrapartida, o governo israelense de Benjamin Netanyahu prometeu uma resposta. No mercado financeiro global, conflitos bélicos levam investidores a buscar ativos mais seguros, especialmente o dólar, como destaca Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou que está em diálogo com Israel sobre possíveis ataques contra instalações petrolíferas iranianas. Com isso, os preços do petróleo Brent, referência internacional, dispararam, registrando uma alta de mais de 5% na Bolsa de Londres.
No cenário doméstico, fatores locais também influenciaram a performance do real na quinta-feira. O otimismo gerado pela decisão da Moody's de elevar a nota de crédito do Brasil, de Ba2 para Ba1, dissipou-se rapidamente, e as preocupações com as contas públicas voltaram ao centro das atenções dos investidores. Na terça-feira, a agência de classificação de risco deixou o Brasil a um passo de obter o grau de investimento, que sinaliza que um país é considerado seguro para investimentos, com baixos riscos de calote.
Contudo, segundo analistas, a decisão da Moody's não dissipou as preocupações dos agentes financeiros locais sobre o equilíbrio fiscal. "O mercado recebeu bem a avaliação da Moody's, mas não considerou que a perspectiva fiscal melhorou com esse 'upgrade'. Ainda há muito a ser feito no controle de gastos", afirmou Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
O desconforto do mercado é alimentado pela criação de despesas permanentes financiadas por receitas temporárias. Para estrategistas do BTG Pactual, o cenário externo é favorável ao Brasil, com a queda de juros nos EUA e um robusto pacote de estímulos anunciado recentemente pela China. No entanto, os desafios fiscais contínuos podem limitar a capacidade do país de aproveitar o momento econômico global positivo.