Clima extremo impulsiona dengue em Minas Gerais e ameaça novo surto

Chuvas torrenciais e calor recorde favorecem proliferação do mosquito e preocupam autoridades de saúde

Por Plox

04/12/2024 09h23 - Atualizado há cerca de 2 meses

Minas Gerais enfrenta uma situação preocupante em relação à dengue, agravada pelas mudanças climáticas. A combinação de temperaturas elevadas e chuvas torrenciais favorece a reprodução do Aedes aegypti, vetor da doença. Com o registro de 1.091 mortes e 1.340.980 casos confirmados em 2024, segundo o último boletim epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), o estado pode estar à beira de uma nova crise de saúde pública.

Foto; Divulgação

Epidemia sem precedentes e risco de novos surtos

A epidemia deste ano foi a pior já registrada em Minas Gerais. Apesar da redução no número de casos desde maio, as autoridades alertam para um possível aumento no início de 2025. O subsecretário de Vigilância em Saúde da SES-MG, Eduardo Prosdoscimi, afirma: “Como tivemos um início de ano muito complicado, estamos trabalhando como se esse cenário [de epidemia] possa acontecer. Esperamos que não seja um cenário ruim, mas precisamos estar preparados.”

Outro fator de preocupação é a circulação do sorotipo 3 da dengue, que pode causar uma nova onda de infecções graves, já que a maioria da população não possui imunidade contra esse tipo.

Impactos das mudanças climáticas no ciclo do mosquito

As temperaturas elevadas e a maior frequência de chuvas torrenciais criam um ambiente ideal para o desenvolvimento do Aedes aegypti. Segundo a bióloga Fernanda Raggi Grossi, o calor acelera o ciclo de vida do mosquito. “As temperaturas ideais da água para as larvas ficam entre 17°C e 34°C. Quanto maiores, menor é o tempo de desenvolvimento”, explica. Assim, em condições mais quentes, o mosquito pode se desenvolver em apenas três dias.

As chuvas intensas, que muitas vezes resultam em alagamentos e acúmulo de água parada, ampliam ainda mais os pontos de reprodução do vetor. Esse cenário aumenta o risco de infestação em novas áreas urbanas e rurais.

Casos graves e manejo clínico

A presença de mais de um sorotipo da dengue intensifica o risco de complicações nos pacientes, especialmente naqueles que já foram infectados anteriormente. O infectologista Leandro Curi reforça a gravidade da situação: “O vírus encontra uma população ainda vulnerável, sem anticorpos para esse sorotipo.” Ele também destaca a importância do manejo clínico adequado para reduzir a gravidade dos casos.

Baixa adesão à vacinação

Desde fevereiro, a vacina contra a dengue está disponível para crianças e adolescentes de 10 a 14 anos na rede pública, mas a adesão é baixa. Em Belo Horizonte, a faixa etária foi ampliada para 6 a 14 anos, mas apenas 32% receberam a primeira dose, e 10,85% a segunda. Prosdoscimi ressalta: “A vacinação será uma ferramenta de médio a longo prazo. Para a atual sazonalidade da doença, não será um elemento para reduzir os danos em grande escala, mas é uma medida muito eficaz.”

No setor privado, a vacina está disponível para pessoas de até 60 anos, com um custo de R$ 350 por dose. Para 2025, o Ministério da Saúde já adquiriu 9,5 milhões de doses da vacina, o dobro da quantidade disponibilizada em 2024. Além disso, o Instituto Butantan trabalha no desenvolvimento de um novo imunizante, que ainda aguarda aprovação da Anvisa.

Engajamento da população é essencial

Enquanto a vacinação em massa não é uma realidade, o combate à dengue depende, principalmente, da conscientização e das ações individuais. Cerca de 80% dos focos de água parada estão localizados em residências. Prosdoscimi enfatiza: “O combate às arboviroses é um hábito de saúde coletiva. Se a população se engajar, com dez minutos por dia, teremos um período sazonal mais tranquilo.”

A luta contra a dengue exige esforços conjuntos entre o poder público e a sociedade, especialmente em um cenário onde as condições climáticas tornam o problema cada vez mais desafiador.

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