“Tenho uma filha de 3 anos, cuida dela”: homem morre após agressão de seguranças em estação de SP
Testemunhas relatam brutalidade e últimas palavras de Jadson Vitor De Sousa Pires, morto por esganadura na estação Carapicuíba.
Por Plox
04/12/2024 09h01 - Atualizado há 7 dias
Na noite de novembro, Jadson Vitor De Sousa Pires, de 30 anos, foi morto após sofrer agressões por agentes de segurança da ViaMobilidade na estação Carapicuíba, na Grande São Paulo. Testemunhas narraram os momentos de terror vividos pelo homem, que implorou por sua vida. “Tenho uma filha de 3 anos, não precisa fazer isso comigo. Cuida dela”, teria dito Jadson antes de desmaiar e não mais acordar.
De acordo com os relatos e imagens divulgados, não há nenhuma ação de Jadson Vitor de Souza Pires que justificasse a violência que sofreu. Testemunhas afirmaram que ele estava em uma condição vulnerável, aparentando estar embriagado ou sob efeito de substâncias, mas não demonstrava comportamento agressivo.
No início das imagens, Jadson aparece cambaleando e com dificuldades para se manter em pé, encostado em uma catraca da estação. Ele chega a cair sozinho no chão, sem representar qualquer ameaça aos demais. Quando tenta se levantar e seguir em direção à catraca novamente, é abordado por seguranças de forma violenta: um deles dá uma rasteira, e outro, identificado como guarda municipal fora de serviço, chega a chutar sua cabeça.
Em seguida, Jadson é arrastado pelos pés para fora da estação e, depois, levado de volta para dentro, onde é novamente agredido. Os seguranças aplicaram golpes no tórax e mantiveram pressão com o joelho próximo ao pescoço e nas costas. Ele foi imobilizado com uma força desproporcional, mesmo já estando visivelmente incapaz de resistir.
Testemunhas afirmaram que Jadson pedia por ajuda, demonstrando medo e desorientação. "Ele só queria água, pediu ajuda e não estava sendo violento", relatou uma pessoa que estava no local. Não há registro de comportamento por parte de Jadson que justificasse os atos de tortura e agressão praticados pelos agentes de segurança.
A perícia realizada no corpo confirmou que a causa da morte foi asfixia mecânica por esganadura. Além disso, o exame apontou costelas quebradas no lado direito do tórax e múltiplas escoriações nos antebraços, mãos e joelhos.
Um passageiro que presenciou a agressão relatou que gritos para cessar a violência ecoaram pela estação, mas os apelos foram ignorados. Segundo ele, Jadson parecia embriagado ou sob efeito de substâncias, mas não era violento. “Era só imobilizá-lo e tentar acalmar. Ele pediu ajuda, queria apenas um copo de água”, relatou a testemunha.
Família devastada exige justiça
Renata Santos de Sousa, viúva de Jadson, descreveu o marido como um homem trabalhador e dedicado à família. Naquele dia, ele havia saído para resolver pendências relacionadas ao seguro-desemprego e FGTS, após ser demitido.
“Ele era tudo para mim e para nossa filha. O que fizeram não tem justificativa. Mesmo que estivesse sob efeito de algo, não havia razão para tanta violência. Não tiveram nenhum sentimento humano”, afirmou Renata. Apenas com a divulgação das imagens pelo Bom Dia SP, ela compreendeu a extensão do ocorrido.
A família pede justiça e responsabilização pelos atos.
Ação dos seguranças e resposta da ViaMobilidade
Um dos agentes que participaram da imobilização utilizava uma câmera corporal, cujas imagens estão sob análise policial. A ViaMobilidade, em nota, lamentou a morte de Jadson e afastou preventivamente os seguranças envolvidos.
A empresa alegou que os atos não refletem seus valores e padrões e anunciou medidas para evitar novas tragédias. Entre elas, a reciclagem completa de seu quadro de agentes, com foco no atendimento a pessoas vulneráveis ou sob efeito de substâncias.
“Reforçamos a capacitação e tornamos obrigatório o registro formal para o uso da força. Estamos comprometidos em oferecer segurança e respeito aos nossos clientes”, informou a concessionária.
Impacto nas operações
O caso gerou grande repercussão e colocou em discussão os protocolos de segurança da ViaMobilidade. Além da sindicância interna e colaboração com a polícia, a empresa também intensificará medidas disciplinares.
A família de Jadson segue cobrando ações efetivas e punição para os responsáveis. A morte de um pai que apenas pedia por ajuda mobiliza não só a comunidade local, mas também reacende o debate sobre violência em abordagens de segurança