Saúde

Surge novo alerta sobre perigos da harmonização facial e de preenchimentos

Pesquisa liderada por especialista da USP analisou 100 casos de complicações vasculares em procedimentos estéticos e reforça uso de ultrassom e maior regulamentação

04/12/2025 às 10:42 por Redação Plox

Especialistas alertam que pessoas que fazem preenchimento facial devem ser informadas sobre o risco de uma complicação grave: o bloqueio de artérias, capaz de provocar perda de pele e até cegueira, devido à redução do fluxo sanguíneo.


Novo alerta sobre riscos da harmonização facial e de outros tipos de preenchimento estético e formas de se proteger

Novo alerta sobre riscos da harmonização facial e de outros tipos de preenchimento estético e formas de se proteger

Foto: Reproduções / Canva / Freepik

Pesquisadores usaram ultrassom para analisar 100 casos de preenchimento que apresentaram complicações, e clínicas estão sendo orientadas a realizar exames de imagem antes de iniciar o procedimento no rosto, a fim de reduzir o risco de danos às artérias próximas.

A pesquisadora principal do estudo, Rosa Sigrist, explica que, embora incomuns, os eventos de oclusão vascular — quando o preenchimento é injetado dentro ou muito próximo de vasos sanguíneos — podem ser devastadores, pois podem levar à morte de tecidos e deformidades faciais quando não tratados adequadamente.


Quando usados de forma inadequada, os preenchimentos podem lesionar tecidos ao redor, causar perda de pele e até levar à cegueira

Quando usados de forma inadequada, os preenchimentos podem lesionar tecidos ao redor, causar perda de pele e até levar à cegueira

Foto: Reprodução / Canva

Se aplicados incorretamente, os preenchimentos podem danificar tecidos próximos, levando à perda de pele e até mesmo à cegueira

Os preenchimentos, muitas vezes associados à chamada harmonização facial, utilizam substâncias destinadas principalmente a tratar rugas e a suavizar ou “rejuvenescer” a pele. Em alguns casos, são usados para dar contorno ao rosto ou modelar nariz e lábios.

As áreas em torno do nariz são consideradas particularmente arriscadas, segundo Sigrist, porque os vasos sanguíneos nasais se comunicam com regiões importantes da cabeça. Danos a esses vasos podem resultar em complicações sérias, incluindo problemas de pele, cegueira e até acidente vascular cerebral (AVC).

Estudo internacional mapeia complicações vasculares

A equipe de Sigrist, da Universidade de São Paulo (USP), analisou complicações vasculares relacionadas a preenchimentos em 100 pacientes atendidos em quatro centros de radiologia (dois no Brasil, um na Colômbia e um no Chile), um centro de dermatologia na Holanda e um centro de cirurgia plástica nos Estados Unidos, entre maio de 2022 e abril de 2025.

O trabalho será apresentado no encontro anual da Sociedade Radiológica da América do Norte.

Em quase metade dos casos avaliados, os exames de ultrassom mostraram ausência de fluxo sanguíneo em pequenos vasos que conectam artérias superficiais às mais profundas do rosto. Em cerca de um terço dos pacientes, não havia fluxo nos principais vasos sanguíneos.

Uma das imagens obtidas mostra, por exemplo, um ultrassom dos lábios de um paciente em que não há fluxo sanguíneo identificável.

Ultrassom antes e depois do preenchimento

Para reduzir o risco de complicações, Sigrist defende que as clínicas realizem ultrassonografias para planejar com mais precisão onde o produto será injetado. Se houver problemas após o procedimento, o mesmo exame pode orientar o tratamento.

Se os preenchimentos não forem guiados por ultrassonografias, o tratamento é feito apenas com base nos sinais clínicos e o produto é injetado às cegas.

Rosa Sigrist

Com o apoio do ultrassom, o médico consegue direcionar o tratamento exatamente para o ponto onde ocorreu a obstrução. Dessa forma, em vez de aplicar grandes quantidades de hialuronidase — medicamento usado para dissolver o preenchimento — em uma área ampla, é possível realizar injeções guiadas, em menor volume, com potencial para melhores resultados, de acordo com a pesquisadora.

Uso de ultrassom cresce, mas ainda não é padrão

A Associação Britânica de Cirurgiões Plásticos Estéticos aponta que o uso de ultrassom em procedimentos estéticos está aumentando, mas ainda não é parte rotineira nem padrão nos cuidados médicos.

Os exames de ultrassom são considerados métodos não invasivos, não utilizam radiação ionizante e, até o momento, não apresentam efeitos nocivos conhecidos.

A presidente da entidade, Nora Nugent, avalia que a tecnologia tem se mostrado útil em diversas áreas da cirurgia e dos procedimentos médicos estéticos. Para ela, mapear a localização dos vasos sanguíneos antes das intervenções fornece informações valiosas e os riscos associados aos preenchimentos são um dos motivos pelos quais a associação defende, há anos, maior regulamentação do setor e a restrição desses tratamentos injetáveis a profissionais com formação médica.

Regras mais rígidas para procedimentos estéticos

No Reino Unido, o governo planeja introduzir restrições adicionais aos procedimentos estéticos. Pelas propostas em discussão, apenas profissionais de saúde “devidamente qualificados” poderão realizar procedimentos considerados de alto risco, como o lifting de bumbum.

Clínicas que oferecem preenchimentos e aplicação de botox também terão de cumprir padrões rigorosos para obter licença de funcionamento.

Uma consulta pública está prevista para o início de 2026, com o objetivo de recolher opiniões sobre a variedade de procedimentos que devem ser abrangidos pelas novas regras. Depois dessa etapa, caberá ao Parlamento decidir quais medidas serão efetivamente implementadas.

Compartilhar a notícia

V e j a A g o r a