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Esportes
Patrocínios máster na Série A disparam e passam de R$ 1,1 bilhão em 2025, puxados por casas de apostas
Contratos de patrocínio principal nos uniformes dos clubes da elite cresceram 125% em dois anos; Flamengo lidera com acordo recorde de R$ 268 milhões em 2025, enquanto domínio das bets levanta debate sobre regulação e futuro do mercado
04/12/2025 às 10:43por Redação Plox
04/12/2025 às 10:43
— por Redação Plox
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As casas de apostas transformaram a principal vitrine do futebol brasileiro. Em apenas dois anos, os patrocínios máster das camisas dos clubes da Série A dispararam 125% e ultrapassaram a marca de R$ 1 bilhão em 2025, de acordo com levantamento da agência Jambo Sport Business.
Em 2023, o total destinado ao espaço mais nobre do uniforme somava R$ 496 milhões. Neste ano, o valor chegou a R$ 1,117 bilhão entre os clubes que disputam atualmente a Série A do Campeonato Brasileiro.
Em 2023, os patrocínios máster dos clubes da Série A totalizaram R$ 496 milhões, de acordo com levantamento. Neste ano, o Flamengo, sozinho, arrecadou mais de metade desse montante
Foto: Reprodução / Flamengo.
O estudo considerou duas exceções: Athletico-PR e Coritiba, que disputaram a Série B em 2025, foram incluídos no lugar de Mirassol, que tem poucas informações disponíveis sobre valores, e Red Bull Bragantino, controlado pela própria Red Bull.
O avanço das bets nesse espaço privilegiado provocou uma debandada de empresas de outros setores. Indústrias farmacêuticas e alimentícias, estatais e bancos perderam lugar e já não aparecem com destaque na parte mais valorizada das camisas.
Flamengo puxa alta e quebra recordes
Atual campeão brasileiro e da Libertadores, o Flamengo é hoje o clube com o patrocínio máster mais valioso do país. Segundo o levantamento, o rubro-negro deve receber R$ 268 milhões em 2025 de uma única casa de apostas, o maior valor já registrado no futebol nacional para esse tipo de contrato.
Entre 2023 e 2025, o clube também teve o maior crescimento absoluto nessa receita: de R$ 85 milhões, em 2023, para R$ 110 milhões, em 2024, até chegar ao recorde atual. O salto foi consolidado após a troca da empresa de apostas que estampava a camisa por uma concorrente.
Estratégia para fixar marca em mercado homogêneo
Os investimentos milionários em patrocínio máster seguem uma lógica bem conhecida no marketing: reforçar a presença da marca para ganhar credibilidade e ocupar um espaço fixo na memória do público. Em um setor com produtos muito parecidos entre si, essa exposição contínua se torna ainda mais estratégica.
Especialistas explicam que, no mercado de apostas, as empresas oferecem serviços similares e têm dificuldade de se diferenciar. Muda o valor do aporte, o tipo de bônus ou a agilidade no pagamento, mas a essência do produto é a mesma. O patrocínio nas camisas aparece, então, como ferramenta central para dar visibilidade e transmitir solidez a essas marcas.
Além do espaço no uniforme, as bets investem pesado em contratos com influenciadores para ações pontuais e com “embaixadores” para parcerias de longo prazo, ampliando o alcance entre diferentes perfis de torcedores e apostadores.
Por que as bets pagam tanto?
A escalada dos valores está ligada, sobretudo, à estrutura de custos das casas de apostas. Ao contrário de empresas do setor produtivo, que precisam destinar grande parte do orçamento a pesquisa, desenvolvimento, produção, estoque, logística e distribuição, as bets não lidam com essas etapas físicas.
Com menos gastos operacionais, a fatia disponível para marketing e publicidade é proporcionalmente maior. Segundo especialistas, isso se reflete diretamente na lucratividade e permite que o setor direcione mais recursos ao fortalecimento de marca, especialmente por meio do patrocínio máster.
Essa busca intensa pelo espaço mais nobre da camisa pressiona os valores para cima. Na prática, trata-se de uma dinâmica de oferta e demanda: muitas empresas disputam o direito de estampar sua marca em apenas 20 clubes da Série A, em um cenário de audiência crescente e multiplicação de conteúdos gerados a partir das partidas, sobretudo nas mídias digitais.
Hoje, 18 dos 20 clubes da Série A têm uma casa de apostas como patrocinadora máster. As únicas exceções são o Red Bull Bragantino, que leva a marca de sua controladora, e o Mirassol, patrocinado pela Poty na parte central da camisa. Mesmo assim, o clube do interior paulista também mantém um acordo relevante com uma empresa de apostas em outro espaço do uniforme.
Outros setores foram “expulsos” do espaço nobre
A entrada agressiva das bets praticamente inviabilizou o patrocínio máster para muitas companhias tradicionais. Especialistas em marketing esportivo apontam que, em vários casos, o valor pago hoje por uma única casa de apostas equivale a todo o orçamento anual de marketing de grandes empresas, que precisam dividir esse montante entre pesquisa, campanhas, ações promocionais e outros canais.
Enquanto as bets conseguem medir de forma mais imediata o impacto da exposição — por exemplo, em aumento no volume de apostas após uma transmissão —, setores como o financeiro enfrentam mais dificuldade para relacionar diretamente o patrocínio de camisa a resultados concretos, o que pesa na tomada de decisão dos executivos.
Ciclos de patrocínio e influência do contexto político
A atual predominância das casas de apostas se insere em uma longa sequência de ciclos de patrocínio no futebol brasileiro, influenciados por fatores econômicos, sociais, de consumo e também políticos.
Nos anos 1990, por exemplo, marcas como Coca-Cola e Parmalat tiveram forte presença no espaço máster. Em 1992, a Coca-Cola estampou 70% das camisas dos clubes da elite, segundo a Jambo Sport Business. Já entre 2013 e 2018, os bancos passaram a liderar esse tipo de patrocínio e chegaram a ocupar 80% das principais propriedades de uniforme.
A Caixa Econômica Federal teve papel decisivo nesse período, patrocinando sozinha 14 dos 20 clubes da Série A em 2017 e mantendo presença relevante também em 2016 e 2018. Entre as estatais, a Petrobras foi outro caso emblemático, com mais de duas décadas de exposição na camisa do Flamengo, dos anos 1980 aos 2000.
Especialistas associam esse movimento ao contexto político. Em determinados governos, é considerado estratégico para o poder público associar marcas de bancos ou estatais aos clubes de maior visibilidade, o que ajuda a explicar fenômenos como a forte presença recente do BRB no futebol.
Risco de restrições e consolidação do setor
Dois movimentos são apontados como capazes de mexer com o atual domínio das bets: uma eventual proibição ou restrição à publicidade e o processo de consolidação do próprio segmento.
No campo regulatório, o vício em jogos já é tratado como problema de saúde pública em diversos países, o que levou governos a impor limites ao marketing das apostas. No Brasil, o Congresso discute restringir a publicidade: em maio, o Senado aprovou um projeto — ainda em análise na Câmara — que veta a participação de atletas, atores, comunicadores e influenciadores em propagandas, mas mantém liberados os patrocínios em uniformes.
O texto também prevê que campanhas tragam alertas sobre riscos de vício. Clubes de futebol, que dependem da receita dessas parcerias, reagiram e apontam possível perda anual na casa de bilhões de reais. Paralelamente, o governo federal já barrou, em norma recente, o uso de contas de beneficiários de programas sociais para realizar apostas.
Do lado econômico, analistas avaliam que a consolidação do setor tende a reduzir a necessidade de investimentos agressivos em publicidade. À medida que as empresas conquistam uma base fiel de usuários, o esforço para “queimar” recursos em busca de notoriedade diminui, o que pode levar a uma acomodação dos valores pagos pelos patrocínios.
O que mostra a experiência internacional
Ligas de países europeus vêm impondo diferentes níveis de restrição à publicidade de casas de apostas no futebol. Na Espanha, desde 2021, é proibida a exposição dessas marcas em uniformes, nomes de estádios e competições. Na Itália, a legislação veta qualquer propaganda do setor — inclusive em camisas — desde 2019.
Na Inglaterra, os clubes da Premier League têm até o fim da temporada 2025/2026 para retirar as bets do espaço máster da camisa, embora o patrocínio em mangas siga permitido. Já na França, o patrocínio máster por casas de apostas continua autorizado, com regras, mas menos limitações do que em outros mercados europeus.
No Brasil, especialistas consideram improvável uma proibição ampla no curto prazo, em parte pela influência política do setor de apostas. A avaliação é de que uma mudança desse porte dependeria de forte pressão popular, possivelmente desencadeada por eventuais escândalos ou por maior sensibilização em torno dos impactos sociais do jogo.
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