Preço do café dispara 152% e deve continuar alto: entenda os motivos

Estiagem prolongada, alta do consumo e desvalorização do real impulsionam aumento; governo não tem controle sobre os preços

Por Plox

05/02/2025 09h17 - Atualizado há cerca de 1 mês

O café, uma das bebidas mais consumidas no Brasil, tem pesado no bolso dos consumidores nos últimos meses. Dependendo da marca, o preço do quilo já ultrapassa os R$ 50. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da USP, a saca de 60 kg de café arábica aumentou 152% em um ano, passando de R$ 1.014,93 em fevereiro de 2024 para R$ 2.565,86 neste mês.

Apesar desse salto nos preços, o mercado não prevê uma queda significativa e projeta que o valor do café se estabilize em um patamar elevado.

Clima adverso afetou a produção

O principal fator responsável pelo aumento expressivo do café está relacionado às condições climáticas. Em 2023 e 2024, o Brasil enfrentou uma estiagem prolongada, impactando diretamente a cafeicultura.

“Não foi a maior seca, mas foi uma das mais severas, o que afeta muito uma cultura perene como o café”, explicou Antônio Pitangui de Salvo, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Sistema Faemg Senar). Além disso, as temperaturas mais altas e eventos climáticos anteriores também comprometeram a produção.

A queda na produção de café não ocorreu apenas no Brasil. Outros grandes produtores, como Vietnã e Colômbia, enfrentaram dificuldades climáticas em 2023. Enquanto a seca prejudicou a safra no primeiro semestre, tempestades intensas afetaram a colheita nos meses seguintes. “Essas variações climáticas severas comprometeram a produção, reduzindo a oferta de café disponível no mercado global”, destacou Pavel Cardoso, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic).

Demanda crescente e desvalorização do real

Outro fator que contribuiu para a alta nos preços foi o crescimento do consumo global de café, especialmente na China, que se consolidou como um dos principais consumidores da bebida.

Além disso, o real desvalorizado frente ao dólar encarece os custos de produção e exportação. Segundo especialistas, a combinação desses fatores pressiona o valor do café tanto para os produtores quanto para os consumidores.

“Não houve falha do governo nesse processo. São eventos climáticos que afetam a cafeicultura, um setor muito sensível a essas variações”, reforçou Salvo.

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Produção em queda pode manter preços altos

O cenário para os próximos meses não é otimista para quem espera uma redução no preço do café. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção deve registrar queda de 4,4% na safra de 2025, com o café arábica sofrendo uma retração ainda maior, de 12,4%.

Para o coordenador dos Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), André Braz, essa redução na oferta pode manter os preços altos. “Se a oferta diminui, o preço sobe. E, como o café é um produto de grande consumo nacional, essa tendência se mantém”, explicou.

Além disso, o ciclo da produção do café é bianual, alternando entre safras fortes e fracas. Como 2024 já foi um ano prejudicado pelo clima, 2025 tende a ser um período de oferta naturalmente menor, o que deve sustentar os preços elevados.

Impacto no bolso do consumidor

Apesar da alta de mais de 152% na saca de café, as indústrias ainda não repassaram integralmente esse aumento aos supermercados e, consequentemente, aos consumidores.

“Nos últimos 12 meses, a indústria recebeu aumentos superiores a 200%, mas repassou apenas 79% aos supermercados, que, por sua vez, transferiram cerca de 39% para os consumidores. Isso significa que novos reajustes ainda podem acontecer”, alertou Pavel Cardoso, da Abic.

Funcafé pode ajudar, mas não resolver o problema

Uma possível alternativa para amenizar o impacto da alta nos preços seria o Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), que deve destinar R$ 6,8 bilhões para a safra 2024/2025.

Cardoso defende que parte desse valor seja utilizada para auxiliar as indústrias de café, permitindo que elas recomponham seu capital e consigam equilibrar os repasses ao consumidor. “O setor precisa do apoio do governo para lidar com essa volatilidade e manter os negócios funcionando”, concluiu.

O que esperar para os próximos meses?

Com a produção global afetada pelo clima, a demanda crescente e a oferta reduzida, o preço do café deve permanecer elevado. Especialistas apontam que não há intervenção governamental capaz de reverter esse cenário a curto prazo. Para os consumidores brasileiros, a expectativa é que o café siga como um produto cada vez mais caro nas prateleiras.

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